Rússia admite que usa recrutamento militar para assustar e expulsar migrantes do país

Autoridade russa afirma que mais de dez mil cidadãos estrangeiros que vivem no país foram forçados a seguir para o campo de batalhas

O recrutamento para defender as Forças Armadas da Rússia na guerra da Ucrânia tornou-se uma arma do governo para assustar os migrantes e levá-los a deixar o país. Alexander Bastrykin, chefe do Comitê de Investigação, um órgão estatal, admitiu que tal estratégia vem sendo adotada, falando durante o Fórum Jurídico Internacional de São Petersburgo. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

“Encontramos, você sabe, um truque que levou ao fato de que os migrantes começaram a deixar lentamente a Rússia”, disse Bastrykin. “Começamos a implementar as disposições da Constituição e de nossas leis que determinam que as pessoas que receberam a cidadania devem fazer alistamento militar e, se necessário, participar da operação militar especial”, acrescentou, usando o eufemismo adotado pelo Kremlin para se referir ao conflito.

De acordo com a autoridade, embora não sejam legalmente responsáveis pela missão, são funcionários do próprio Comitê de Investigação os encarregados de identificar os migrantes, recrutá-los e obrigá-los a lutar. Bastrykin revelou, ainda, que cerca de 30 mil indivíduos foram capturados, com aproximadamente dez mil deles enviados à Ucrânia.

Soldados do exército da Rússia: mais de dez mil migrantes alistados (Foto: reprodução/Facebook)

A fala confirma uma antiga denúncia contra Moscou, de que migrantes têm sido forçados a lutar mesmo contra sua própria vontade. Algo que não se estende mais aos russos de nascimento, ao menos desde que terminou a mobilização estabelecida pelo presidente Vladimir Putin em setembro de 2022.

A campanha das Forças Armadas visa sobretudo cidadãos de países da Ásia Central. As acusações contra o Kremlin indicam que homens nascidos em países como Cazaquistão e Tadjiquistão precisam assinar contrato com o governo caso queiram manter ou obter a cidadania, tornando-se candidatos preferenciais a lutar na Ucrânia. Inclusive familiares são ameaçados pelo governo caso os recrutados se alistem.

A perseguição das autoridades coloca os migrantes contra a parede. Os que não cedem à pressão são perseguidos na Rússia e podem acabar expulsos, sendo que muitos vivem no país há anos. Caso aceitem colocar a própria vida em risco no campo de batalhas, podem ser punidos em seus países de origem, onde há leis que os proíbem de participar de atividades militares no exterior.

Diante do risco, muitos resolvem por conta própria ir embora, dando ao governo uma importante arma para combater a migração considerada indesejada. Bastrykin é um crítico feroz dos migrantes e defende que a legislação seja endurecida para conter a entrada no país de cidadãos de outras nacionalidades. Uma posição que se radicalizou após o ataque terrorista que matou mais de 140 pessoas em Moscou em março, atribuído a cidadãos tadjiques a serviço do Estado Islâmico-Khorasan (EI-K).

Segundo os dados mais recentes do Ministério do Interior, há atualmente no país cerca de 10,5 milhões de migrantes provenientes de países como Cazaquistão, Uzbequistão, Tadjiquistão e Quirguistão. Muitos foram alvo da mobilização de Putin que adicionou cerca de 300 mil novos combatentes às fileiras do exército na Ucrânia. Os que escaparam continuam sendo perseguidos atualmente.

Tags: