Rússia adverte a China sobre crescente perigo nuclear durante cúpula em Beijing

Durante fórum militar chinês, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, repetiu a retórica do Kremlin sobre um confronto nuclear

Nesta segunda-feira (29), no segundo dia do 10° Fórum de Segurança de Xiangshan, cúpula organizada por Beijing para tratar de pautas relacionadas à defesa com lideranças regionais, a Rússia lançou um alerta sobre a possibilidade de um confronto entre as principais potências nucleares.

Durante o evento, que neste ano traz como tema Segurança Comum, Paz Duradoura, os representantes russos centraram suas críticas nos Estados Unidos, diante da presença de representantes de países da região da Ásia e Pacífico e da Europa. Eles acusaram Washington de “causar problemas em todo o mundo” e de se envolverem em “políticas de grupo restrito”, conforme informações da revista Newsweek.

O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, acusou os EUA e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) de continuarem “a minar a segurança” de Moscou e “sua capacidade de resistência”, conforme noticiado pela agência de notícias estatal Tass.

Ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu (Foto: WikiCommons)

Sobre o assunto guerra na Ucrânia, a Rússia descreveu sua invasão em larga escala como uma espécie de confronto indireto entre Moscou e o Ocidente. Com base nessa narrativa, o Kremlin e seus propagandistas criticaram o apoio militar fornecido a Kiev pelos aliados ocidentais, principalmente membros da aliança militar transatlântica.

Shoigu ecoou a posição do Kremlin sobre o status da Rússia como superpotência nuclear e insinuou as possíveis implicações disso, especialmente considerando as severas sanções e a condenação global que Moscou enfrenta.

Ele alertou que a escalada constante do conflito com o Ocidente poderia levar a um confronto militar direto entre potências nucleares, o que, em suas palavras, “teria implicações catastróficas”.

Além disso, explicou que a decisão de Moscou de sair do Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares (CTBT, da sigla em inglês) foi motivada pela intenção de “restaurar a paridade com os Estados Unidos, que não ratificou este tratado.” A saída do tratado, ocorrida na última quarta-feira (25), foi seguida pelo anúncio de um amplo exercício nuclear no mesmo dia.

Shoigu afirmou que o Ocidente tinha a intenção de causar uma “derrota estratégica” à Rússia naquilo que ele descreveu como uma “guerra híbrida”, e destacou a qualidade das relações entre Moscou e Beijing, descrevendo-as como “exemplares”, conforme relatado pela mídia estatal russa.

Embora a perspectiva do uso de armas nucleares tenha sido mencionada no conflito, muitos especialistas argumentam que a ameaça diminuiu.

China faz crítica velada aos EUA

Militares chineses também expressaram críticas à Casa Branca, embora de forma indireta, segundo a rede Radio Free Asia. O coronel-general Zhang Youxia, vice-presidente da Comissão Militar Central da China e o segundo oficial militar mais graduado do país, fez comentários iniciais nesta segunda-feira (30), quando abordou “certos países” que, segundo ele, “deliberadamente causam agitação, interferem em questões regionais, se intrometem nos assuntos internos de outras nações e promovem revoluções coloridas.”

Ele acrescentou que, aonde quer que esses países atuem, “não há paz”.

Youxia ainda enfatizou a posição de Beijing de que Taiwan é uma questão central e fundamental para a China e que as forças armadas chinesas não demonstrarão complacência quando se trata do sensível assunto em torno da ilha semiautônoma.

Apesar disso, Zhang sublinhou a importância de aprimorar as relações militares com os EUA. Em pronunciamento atentamente acompanhado por autoridades militares e diplomatas, o militar disse que é do interesse da China aprofundar a cooperação estratégica e a coordenação com a Rússia, bem como há o desejo de desenvolver laços militares com Washington, com “base no respeito mútuo, convivência pacífica e benefícios recíprocos.”

O Pentágono enviou uma delegação discreta para a cúpula, com Cynthia Xanthi Carras, diretora nacional para a China no Gabinete do Subsecretário de Defesa, liderando a comitiva. Ela teve uma breve conversa com o porta-voz do Ministério da Defesa chinês, Wu Qian, durante o fórum, como relatado por uma conta de rede social afiliada à emissora estatal CCTV.

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