Rússia busca engajar internautas chineses para impor narrativa sobre a guerra na Ucrânia

Campanha sustenta que o Ocidente se intromete nos assuntos de Kiev desde a queda do presidente pró-Rússia há uma década

A Rússia está recorrendo às redes sociais da China para promover sua versão dos eventos que levaram à invasão da Ucrânia há dois anos. Especialistas chineses sugerem que essa estratégia visa destacar a resistência russa e angariar um apoio público mais amplo. As informações são do jornal South China Morning Post.

Como parte da estratégia, a embaixada russa em Beijing divulgou uma série de artigos e vídeos denunciando o movimento “Euromaidan, também chamado de Primavera Ucraniana, uma onda de manifestações e agitação civil na Ucrânia entre 2013 e 2014 para protestar contra a decisão do então presidente Victor Yanukovich de cancelar um acordo econômico de integração à União Europeia (UE), evento que Moscou trata como um “golpe apoiado pelo Ocidente”.

A embaixada russa na China escolheu uma estratégia online para marcar o aniversário de dez anos da revolução na Ucrânia. Utilizando hashtags como “o 10º ano do golpe de Estado na Ucrânia”, as postagens coincidiram com o aniversário da remoção do presidente pró-Rússia Yanukovych. O movimento aconteceu dois dias antes do segundo aniversário da invasão, lembrado no sábado (24). Além disso, a mídia estatal russa, incluindo a Sputnik News, tem ampliado sua cobertura sobre a Ucrânia, aproveitando a relevância do momento.

Equipe de morteiros da Guarda Nacional da Ucrânia dispara no Oblast de Zaporizhzhia, janeiro de 2024 (Foto: WikiCommons)

Enquanto os defensores do movimento o chamam de “Revolução da Dignidade”, Moscou e seus aliados na China o consideram uma revolução colorida orquestrada – termo usado para descrever movimentos de protesto ou mudanças políticas não violentas, geralmente associadas a uma mudança de regime – pelo Ocidente. A campanha nas redes sociais busca despertar o sentimento nacionalista chinês ao acusar EUA, Reino Unido, Alemanha e outros países ocidentais de interferirem nas manifestações de Maidan.

A campanha russa nas redes sociais destaca a influência ocidental no governo ucraniano atual e as dificuldades econômicas enfrentadas pelo país desde a queda de Yanukovych. Especialistas sugerem que essa iniciativa faz parte dos esforços de diplomacia pública da Rússia para ganhar apoio em meio a uma percepção negativa da guerra na Ucrânia pela mídia internacional. Com laços especiais com a Rússia, alguns setores do público chinês mostram simpatia por Moscou, o que proporciona um ambiente relativamente favorável para a campanha russa em Beijing.

Li Lifan, especialista em Rússia da Academia de Ciências Sociais de Xangai, sugere que a campanha busca destacar a força econômica e militar de Moscou antes do aniversário do conflito e das eleições presidenciais russas em março.

Segundo ele, Moscou está aproveitando as redes sociais chinesas para promover narrativas que destacam sua “força e resiliência econômica e espiritual”, apesar das sanções ocidentais. O objetivo é atrair apoio tanto dos grupos pró-Rússia quanto dos anti-Moscou na China, especialmente antes do pleito que deve estender o mandato de Vladimir Putin.

Apesar das sanções ocidentais, a economia russa mostra surpreendente resiliência. O Fundo Monetário Internacional (FMI) recentemente mais que dobrou sua previsão de crescimento econômico para a Rússia neste ano, aumentando de 1,1% para 2,6% em janeiro, indicando um cenário de crescimento mais robusto do que o esperado.

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