Rússia condena adolescentes que tramaram explosão de prédio virtual no jogo Minecraft

Jovens tinham 14 anos quando foram acusados de planejar explodir um escritório virtual construído por eles no popular game

A Justiça russa condenou três adolescentes siberianos, nesta quinta-feira (10), sob a acusação de terem planejado a explosão de um prédio virtual da FSB (Agência de Segurança Federal da Rússia, da sigla em inglês) no Minecraft, popular jogo de videogame. As informações são do jornal britânico The Guardian.

Nikita Uvarov, Denis Mikhailenko e Bogdan Andreyev, da cidade de Kansk, tinham 14 anos quando foram detidos em dezembro de 2020, ao distribuírem panfletos que pediam a liberdade de Azat Miftakhov, um jovem matemático preso em 2019 e condenado a seis anos de prisão sob acusação de vandalismo. A detenção de Miftakhov é vista por críticos ao Kremlin como politicamente motivada.

O trio de adolescentes foi levado sob custódia quando, ao revistarem os smartphones, as autoridades constataram que eles estavam jogando Minecraft de forma online. No game, que simula construções, eles haviam erguido um prédio da FSB que planejavam explodir virtualmente.

Além disso, os jovens são acusados de tramar atos de terrorismo na cidade “para retaliar” a prisão de ativistas, entre eles supostos membros da organização chamada Set (Rede, em tradução literal), que as autoridades russas consideram terrorista. Eles estariam aprendendo a produzir bombas que seriam detonadas em prédios abandonados, segundo as autoridades.

Imagem do jogo Minecraft: jovens jogadores foram condenados por terrorismo (Foto: Flickr)

O Tribunal Militar da cidade de Krasnoyarsk considerou os jovens culpados de “treinamento com o objetivo de realizar atividades terroristas”. A maior pena foi dada a Uvarov, que pegou cinco anos de detenção em uma colônia penal, enquanto Mikhailenko e Andreyev foram condenados a três e quatro anos, respectivamente, mas tiveram as penas suspensas porque cooperaram com as autoridades.

Mikhailenko e Andreyev se declararam culpados das acusações e foram posteriormente colocados em prisão domiciliar. Uvarov negou envolvimento e foi colocado em um centro de detenção pré-julgamento, onde alega ter sido submetido a pressão mental e física para confessar sua culpa.

De acordo com o jornal independente russo Novaya Gazeta, as últimas palavras de Uvarov no tribunal, após relatar a pressão que sofreu das autoridades durante a investigação e negar planos de explodir qualquer coisa, foram “pela última vez, quero dizer: não sou um terrorista”.

Os familiares dos adolescentes, ex-professores e advogados descreveram os acusados como “normais” e “como outras crianças”.

Segundo o jornal independente The Moscow Times, o caso coloca os adolescentes russos em um “atoleiro legal”, onde eles podem ser alvo das forças de segurança do Estado. Os serviços de segurança russos têm sido criticados pelo que os militantes dos direitos humanos chamam de “invenções de casos de terrorismo”, criando uma atmosfera de medo entre os jovens que criticam o Kremlin.

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