Os gastos militares da Rússia ultrapassaram, pela primeira vez, a soma dos orçamentos de defesa de todos os países da União Europeia (UE) mais o Reino Unido somados. Em 2023, o país destinou 13,1 trilhões de rublos (462 bilhões de euros em paridade de poder de compra para seu setor militar), um aumento real de 42% em relação ao ano anterior. Os dados foram divulgados pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês) e reproduzidos pelo jornal Financial Times.
Em contraste, os gastos europeus cresceram 12% no mesmo período, alcançando 457 bilhões de euros, levemente abaixo do total russo. O relatório “Balanço Militar”, publicado anualmente pelo IISS, ressalta os desafios de segurança para a Europa, especialmente em um cenário de incerteza sobre o apoio dos Estados Unidos à Ucrânia.
O presidente Donald Trump, de volta à Casa Branca, tem defendido cortes no financiamento dos EUA para a defesa europeia. “Gastamos muito com este conflito e com a segurança europeia como um todo”, afirmou, destacando que seu governo manteve “conversas muito sérias” com Moscou sobre a guerra na Ucrânia.
A pressão para que os países europeus aumentem seus investimentos em defesa também tem crescido dentro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Trump sugeriu que a Europa deveria destinar 5% do PIB (produto interno bruto) de cada país para esse setor, enquanto o novo secretário-geral da aliança, Mark Rutte, defende um patamar de 3%.
Hoje, a média europeia é de apenas 1,7%. Se a meta de 3% fosse atingida, os orçamentos europeus ganhariam um reforço de 250 bilhões de euros. Caso chegassem a 5%, o montante extra seria de 800 bilhões bilhões, quase o dobro do que Moscou investe atualmente.

Apesar da crescente carga financeira da guerra, o IISS conclui que “a Rússia ainda pode arcar com os custos do conflito“. O orçamento militar russo deve aumentar mais 13,7% neste ano, chegando a 15,6 trilhões de rublos, o equivalente a 7,5% do PIB e quase 40% de todos os gastos federais do país.
O estudo também revela que os gastos militares da Europa subiram 50% desde 2014, impulsionados por tensões geopolíticas e pela invasão da Ucrânia. No entanto, segurar esse ritmo pode ser um desafio. “As restrições fiscais podem conter o crescimento futuro”, alertou o IISS.
A Alemanha teve um aumento significativo em sua dotação militar, atingindo 86 bilhões de euros e ultrapassando o Reino Unido pela primeira vez em mais de 30 anos. No entanto, esse salto se deve a um fundo especial e não necessariamente será mantido. O compromisso alemão de atingir 2% do PIB até 2029 também é incerto.
O Reino Unido, que historicamente é o segundo maior investidor em defesa da Otan depois dos EUA, atualmente destina 2,3% do PIB ao setor. O governo britânico prometeu elevar esse percentual para 2,5%, mas ainda não definiu um prazo para isso.
A França, outro importante ator na segurança europeia, investiu 64 bilhões de euros em 2023, um aumento de 4,5% em relação ao ano anterior. Esse valor representa 2% do PIB francês.
Os países europeus que mais investem em defesa, proporcionalmente ao PIB, são aqueles localizados próximos à fronteira russa. A Estônia gastou quase 4% do PIB com defesa no ano passado, enquanto a Polônia destinou 3,25%. Ainda assim, os orçamentos desses países, em termos absolutos, são muito menores que os das maiores economias da região: 1,7 bilhão de euros no caso da Estônia, 28 bilhões de euros na Polônia.