Rússia proíbe entrada de 29 jornalistas britânicos e pessoas ligadas à indústria bélica

Medida anunciada pelo Kremlin é resposta às sanções ocidentais, e represália à cobertura jornalística classificada como "unilateral"

Como resposta às sanções internacionais e à “difusão de informações falsas”, a Rússia proibiu a entrada no país de autoridades de Defesa, jornalistas e outros representantes da mídia britânica que trabalham na cobertura do conflito. A determinação foi anunciada pelo Ministério das Relações Exteriores nesta terça-feira (14), segundo informações da agência Reuters.

Alegando narrativa “unilateral” por parte do Ocidente, a cartada de Moscou contra a imprensa do Reino Unido inclui 29 profissionais, entre eles âncoras de notícias e editores-chefes, além de membros de organizações de mídia locais. Na lista estão a rede BBC, a emissora Sky News e os jornais Daily Telegraph, Independent, Guardian e Times. A represália também se estende a 20 figuras britânicas que o Kremlin alega estarem ligadas à indústria bélica.

“Os jornalistas britânicos incluídos na lista estão envolvidos na disseminação deliberada de informações falsas e unilaterais sobre a Rússia e eventos na Ucrânia e Donbass“, detalhou o ministério em comunicado, acrescentando que os profissionais usam de narrativas tendenciosas, contribuindo para “alimentar a russofobia na sociedade britânica”.

Determinação do Kremlin reprime reportagens críticas sobre a guerra contra a Ucrânia (Foto: WikiCommons)

Era uma promessa de Moscou retaliar sanções estrangeiras contra autoridades russas e dar uma resposta a proibições da mídia russa no exterior. A repressão à mídia estrangeira pelo governo Putin é anterior à guerra. Ele também já havia ordenado expulsões de diversos importantes jornalistas estrangeiros. Entre eles Andrei Zakharov, correspondente da BBC local, e Sarah Rainsford, também repórter da rede britânica.

“É triste, mas não totalmente surpreendente”, disse o professor e autor Mark Galeotti, especialista em crimes transnacionais e assuntos de segurança russos que figura entre os banidos.

O jornalista do Guardian Shaun Walker, que atuou por mais de dez anos como correspondente do veículo britânico em Moscou, comentou a medida em sua conta no Twitter. “Entre as razões que o @mfa_russia dá para me banir e a outros jornalistas hoje é que ‘contribuímos para alimentar a russofobia na sociedade britânica’. Usar novichok nas pessoas, derrubar MH17, lançar invasão maciça da Ucrânia, Bucha etc, também podem ter “contribuído”. Apenas talvez…”, disse ele no Twitter.

Além de mais um movimento para silenciar a imprensa, Moscou também proibiu a entrada de 20 figuras que estariam “associadas ao estabelecimento de defesa britânico”. Segundo o Kremlin, são pessoas “responsáveis ​​pelo fornecimento de armas ocidentais à Ucrânia”.

Entre as autoridades estão o chefe do Estado-Maior Naval, almirante Benjamin Key. Também constam na lista nomes de executivos das empresas de defesa e aeroespacial BAE Systems e Thales UK.

Imprensa amordaçada

censura na Rússia, que já era forte antes da invasão da Ucrânia por tropas russas, tem se intensificado durante a guerra. Em março, o Legislativo aprovou um projeto de lei que criminaliza a distribuição do que o governo vier a considerar “notícias falsas” sobre operações militares russas.

Os russos têm pouco acesso ao jornalismo independente no país. Desde que os censores entraram em ação, impondo bloqueio parcial do acesso ao Facebook, ao Twitter e a diversos sites informativos locais e estrangeiros no país, a Wikipédia virou uma espécie de “resistência”. Nela, os russos podem acessar informações sobre a guerra sem influência da mídia estatal.

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