Jornalista da BBC rotulado como ‘agente estrangeiro’ deixa a Rússia

Andrei Zakharov contou em vídeo que se mudou para a Grã-Bretanha porque vinha sofrendo perseguição estatal, com vigilância constante

Após ser rotulado como “agente estrangeiro”, um importante jornalista investigativo russo revelou na segunda-feira (27) que deixou o país. Em vídeo, Andrei Zakharov, correspondente da BBC local, contou que se mudou para a Grã-Bretanha alegando “vigilância sem precedentes” desde outubro, quando recebeu o rótulo do Kremlin que carrega conotações negativas da era soviética. As informações são do jornal independente The Moscow Times.

No currículo incendiário de Zakharov consta uma matéria sobre a suposta ex-amante do presidente Vladimir Putin e sua presumida filha extraconjugal, publicada no ano passado. Ele também revelou a intromissão da Rússia nas eleições presidenciais dos EUA de 2016. Outro de seus mais recentes e importantes trabalhos foi a investigação do coletivo de hackers Evil Corp.

Andrei Zakharov foi rotulado “agente estrangeiro” em outubro e vinha sendo vigiado desde então (Foto: Facebook/Reprodução)

No vídeo publicado pela BBC da Rússia, o jornalista alega desconhecer os motivos pelos quais vem sendo perseguido, mas atribuiu a vigilância do Estado ao seu trabalho. “Não está claro a que a vigilância estava ligada: o fato de eu ter sido reconhecido como um ‘agente estrangeiro’, ou, talvez, ao trabalho que fiz sobre hackers do grupo Evil Corp, no qual trabalhei com meus colegas ingleses”, observa Zakharov.

O repórter também revelou na gravação que, embora lamente ter deixado o país natal, ele continuará a seguir as regras impostas pelo rótulo que recebeu. Em comunicado, a BBC disse rejeitar a decisão das autoridades russas de designar seu jornalista como um “agente estrangeiro”

Por que isso importa?

Jornalistas e veículos de imprensa críticos ao governo da Rússia são alvo de uma perseguição que tem o respaldo da Justiça do país. Em junho, Ivan Pavlov, ex-diretor da Fundação Anticorrupção de Alexei Navalny, entrou para a lista de criminosos procurados do país, sem que o Ministério do Interior tenha especificado o crime que ele cometeu.

Em julho, após a publicação de reportagens desfavoráveis ao presidente Vladimir Putin, o site The Insider e cinco jornalistas do veículo foram listados como “agentes estrangeiros”. A medida seria um ato de vingança contra a mídia independente por ajudar a revelar o papel do Kremlin nos envenenamentos do ex-espião Sergei Skripal, bem como outras tentativas de assassinato pela FSB (Agência Nacional de Segurança, da sigla em inglês).

A designação de “agente estrangeiro” carrega conotações negativas da era soviética e serve para rotular o que seriam organizações envolvidas em atividades políticas financiadas pelo exterior. A classificação acaba por afastar potenciais parceiros e anunciantes e muitas vezes sufoca financeiramente os veículos, obrigados ainda a fornecer ao governo relatórios detalhados sobre suas finanças e atividades.

Jornalistas independentes ou representantes de veículos de mídia que tenham se esquivado das exigências três vezes após terem o nome incluído na lista podem pegar pena de até dois anos de prisão, de acordo com o código penal russo.

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