‘Ameaça à segurança nacional’, jornalista britânica é obrigada a deixar a Rússia

Sarah Rainsford, que atuava no país há mais de 20 anos, foi impedida de renovar seu visto como retaliação diplomática do Kremlin

A jornalista da rede britânica BBC Sarah Rainsford teve de deixar a Rússia, uma saída forçada com contornos de expulsão devido ao fim da validade de seu visto e a impossibilidade de prorrogação. Na visão do veículo para o qual ela trabalha, o episódio é um ataque de Moscou à liberdade de imprensa, relatou a Radio Free Europe.

A atitude do Kremlin em não renovar a permanência é uma retaliação, sob a alegação de que Londres também se recusou a conceder vistos a jornalistas russos.

A britânica é correspondente desde 1999, sendo uma das duas profissionais da BBC em inglês na capital russa. Ela foi mandada de volta ao país natal depois que Moscou acusou Londres de discriminar jornalistas russos em atuação no Reino Unido.

“Não é uma falha na renovação do meu visto, embora tecnicamente seja isso. Estou sendo expulso, e me disseram que não poderei voltar. Nunca”, disse a jornalista em agosto.

Sarah Rainsford, jornalista da BBC, foi expulsa da Rússia e proibida de retornar (Foto: reprodução/Twitter)

Nesta terça-feira (31), ela escreveu um relato de despedida, que inicia da seguinte maneira: “quando você ler, estarei voltando para a Inglaterra, expulsa da Rússia como uma ameaça à segurança nacional”.

A retaliação russa se apega ao caso de um jornalista da agência estatal TASS, que teria sido expulso do Reino Unido em 2019. Diante da negativa de visto e ausência de explicações ao seu profissional de imprensa, Moscou alegou “maus-tratos” das autoridades britânicas.

Entrada recusada

No texto, Rainsford relata que começou a suspeitar que estava sendo marcada há um ano, “quando o Ministério das Relações Exteriores da Rússia começou a me emitir vistos de curto prazo”.

Ela conta que no dia 10 de agosto “fui levada ao controle de passaportes no aeroporto de Moscou e informada que fui impedida de entrar na Rússia pela FSB (Agência de Segurança Federal, da sigla em inglês)”. Não houve mais explicações, exceto que a entrada dela estava sendo recusada “indefinidamente”.

“Pergunte à FSB”, disse ela, citando o oficial da guarda de fronteira do aeroporto.

Rainsford recebeu o aviso após retornar de Belarus, onde cobriu protestos contra o regime de Aleksander Lukashenko, no poder desde 1994 e que tem desconfiança internacional crescente após a sexta reeleição em 2020, pleito com fortes indícios de fraude. Desde que Vladimir Putin parabenizou Lukashenko por sua “vitória” eleitoral em agosto passado, o Kremlin vem consolidando seu controle sobre o país vizinho.

Ela disse que teve uma última permissão de entrada na Rússia para pegar seus pertences. O governo britânico pediu às autoridades russas para que reconsiderassem a negativa do acesso de Rainsford ao país.

Moscou sugeriu que manterá a medida contra a jornalista ou de qualquer substituto da BBC, a menos que as autoridades do Reino Unido concedam um visto a um jornalista russo que deseja se mudar para Londres.

Imprensa cercada

A poucos dias das eleições parlamentares, a mídia russa está cada vez mais sob controle de Putin, bem como seus adversários políticos.

Na semana passada, um grupo de jornalistas da imprensa independente do país publicou uma carta aberta ao presidente. No documento, eles pedem o fim da repressão jornalística e a suspensão das designações de “agentes estrangeiros” e “organizações indesejáveis” atribuídas a inúmeros veículos. 

A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) alertou nesta terça-feira (31) que a Rússia estava “apertando seu controle” na Internet, restringindo “drasticamente a liberdade de imprensa e de expressão antes das eleições”.

Para a organização baseada em Paris, o caso de Rainsford sinaliza que “repórteres estrangeiros só terão permissão para fazer seu trabalho sem impedimentos, desde que se abstenham de criticar os que estão no poder no Kremlin com demasiada veemência”.

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