As Forças Armadas da Rússia realizaram na terça-feira (29) um exercício militar no qual simularam o uso de sua tríade nuclear para disparar mísseis em resposta a um hipotético ataque estrangeiro. Os disparos foram feitos por terra, mar e ar, sob a supervisão do presidente Vladimir Putin.
“O Comandante Supremo das Forças Armadas da Federação Russa, Vladimir Putin, supervisionou um treinamento de componentes terrestres, navais e de aviação das Forças de Dissuasão Estratégica”, disse o governo russo em comunicado. “Durante os exercícios, foram realizados lançamentos práticos de mísseis balísticos e de cruzeiro.”
O Cosmódromo de Plesetsk, no norte da Rússia, foi uma das bases de lançamento dos mísseis. As Forças Armadas russas ainda usaram dois submarinos nucleares, o Novomoskovsk e o Knyaz Oleg, para fazer disparos a partir do Mar de Barents, bem como um bombardeiro estratégico modelo Tu-95MS.
“Os exercícios verificaram a prontidão dos órgãos de comando e controle, as habilidades do pessoal comandante e operacional na organização do controle de tropas subordinadas”, acrescentou Moscou no comunicado, segundo o qual “todos os mísseis atingiram os alvos designados”.
Putin também falou antes dos exercícios, de acordo com o jornal The Moscow Times. Adotou, entretanto, um tom pouco agressivo ao afirmar que o país “reafirma sua posição firme de que o uso de armas nucleares é uma medida de último recurso para garantir a segurança do Estado”.
Da teoria à prática
Nos últimos meses, Moscou vem ultrapassando a retórica inflamada para adotar medidas práticas ligadas a seu arsenal de armas de destruição em massa. O ponto crucial do processo foi a flexibilização da doutrina nuclear anunciada por Putin em setembro. A medida determina que um ataque contra o país por um Estado não nuclear, mas que conte com o apoio de outro com armas nucleares, passará a ser encarado como um “ataque conjunto”.
Considerando o cenário da guerra da Ucrânia, a nova doutrina significa na prática que Moscou pode usar suas armas nucleares para responder a uma ação de Kiev com armas ocidentais. Até então, a norma previa o uso somente em resposta a um eventual ataque também nuclear, ou então para reagir a uma situação extrema que colocasse a própria existência do Estado russo em risco.
A decisão de Putin, bem como os recentes exercícios com o arsenal de destruição em massa, surgem conforme a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) cogita afrouxar as restrições ao uso de suas armas por Kiev, que pede liberdade para disparar os mísseis fornecidos pelo Ocidente contra o território russo. Argumenta que assim seria capaz de neutralizar a artilharia posicionada longe da região de fronteira.
Em junho, a Rússia já avia realizado exercícios militares que despertaram o interesse ocidental devido ao emprego de armas nucleares táticas, algo incomum. Tais manobras geralmente envolvem armas nucleares estratégicas, aquelas com alto poder de destruição, como as que os EUA usaram para atingir Hiroshima e Nagasaki em 1945. Entretanto, em manobras recentes, Moscou usou artefatos menos potentes, voltados a neutralizar posições inimigas, indício de que admite implantá-los na Ucrânia.