Durante sessões de tortura em prisões russas, soldados ucranianos capturados dizem ter sido pressionados a mudar de lado e integrar o Exército da Rússia com uma missão explícita: invadir a Europa. “Durante um dos interrogatórios, esses torturadores me ofereceram cooperação. Disseram que o único objetivo era ‘vir conosco e juntos ocupar a Europa’”, relatou o médico militar Volodymyr Labuzov, ex-prisioneiro de guerra. As informações são da rede Euronews.
Capturado em abril de 2022, quando defendia Mariupol, Labuzov afirma que quase todos os ucranianos detidos recebem esse tipo de proposta, muitas vezes sob espancamento, isolamento e ameaças. Segundo ele, além de militares, milhares de civis, inclusive crianças, seguem presos sob as mesmas condições e sem perspectiva de libertação, mesmo que não tenham ligação com as Forças Armadas da Ucrânia.

“Eles devem ser devolvidos sem qualquer condição, sem qualquer acordo”, declarou Labuzov. “A Rússia não faz diferença entre soldados e civis. A maioria foi retirada de territórios que Moscou diz ter ‘libertado’, mas o tratamento é o mesmo.” Ele afirma que, nos territórios ocupados, quem recusa a cidadania russa perde todos os direitos básicos, inclusive o de circular pelas ruas.
“Se você não aceita, ou pior, resiste, a cidade é destruída”, afirmou. “Foi o que vi em Mariupol. Vi civis sendo mortos, vi a destruição da infraestrutura urbana.” O médico relatou que o mesmo padrão de aniquilação se repetiu em Bakhmut, Avdiivka e Soledar. “Só restaram ruínas”, disse.
Troca de prisioneiros de guerra
No último fim de semana, Rússia e Ucrânia realizaram uma troca de prisioneiros em larga escala, dando sequência a um acordo firmado em Istambul, conforme relatou a agência Reuters. No sábado (24), 307 militares foram libertados por cada lado, em uma operação que deve alcançar mil pessoas de cada país ao longo de três dias.
As imagens divulgadas pelo governo ucraniano mostram soldados recém-libertados envoltos na bandeira nacional, em silêncio ou às lágrimas. “Não acredito que estou em casa”, disse um deles ao telefone, minutos após o desembarque. Do lado russo, os militares posaram com símbolos da Federação, da União Soviética e do antigo império czarista.
A troca aconteceu sob o impacto de mais um ataque contra Kiev, que deixou ao menos 15 feridos. Segundo o presidente Volodymyr Zelensky, a meta é recuperar “cada um dos nossos em cativeiro russo”. Já o Kremlin sinalizou que poderá apresentar um esboço de acordo de paz após o fim da operação. Até lá, milhares de civis e soldados continuam em prisões, sem previsão de retorno.