Russos acusam governo de descumprir promessa de perdão criminal em troca de serviço militar

Criminosos que deixaram a cadeia para lutar na guerra da Ucrânia se dizem forçados a assinar contratos por tempo indeterminado

Em setembro de 2022, pouco após a guerra da Ucrânia completar seis meses, começaram a surgir relatos de que o Wagner Group, uma organização paramilitar privada, vinha recrutando presos para ir ao campo de batalhas em troca de perdão por seus crimes. Hoje, quase dois anos após o início desse processo, alguns indivíduos que aceitaram a proposta dizem que Moscou não cumpriu sua parte no acordo.

O site investigativo Important Stories ouviu russos que integram o programa desde o segundo semestre de 2022, justamente quando surgiram os primeiros relatos. São indivíduos que se juntaram a uma unidade especial batizada de “Cascata”, ligada ao governo estabelecido por Moscou na região ucraniana de Donetsk, ocupada desde 2014.

Integrantes das Forças Armadas da Rússia (Foto: reprodução/Facebook)

A promessa inicial era de que bastariam seis meses de serviço militar para que os presos recebessem o perdão por seus crimes, sendo então autorizados a retomar suas vidas fora da cadeia. Ao chegarem aos centros de alistamento, entretanto, foram avisados de que lutariam até o final da guerra, tendo que assinar contratos com prazo indeterminado.

Aqueles que se rebelam contra as regras são torturados e ameaçados, segundo as fontes ouvidas pela reportagem. Se insistirem em deixar a unidade militar, ouvem das autoridades russas que serão enviados de vota à prisão, mesmo que tenham lutado na guerra pelo prazo estabelecido originalmente.

“Não quero assinar esse maldito contrato. Eles ameaçam nos colocar na lista de procurados, devolver aos centros de detenção provisória e prisões, espancar até perder os sentidos e depois nos colocar para lutar de novo”, disse um preso que luta em Donetsk desde novembro 2022, acrescentando que há ao menos outras 500 pessoas na mesma situação na região. 

No caso dos combatentes que atuam na unidade “Cascata”, outra reclamação é a da falta de direitos que são habitualmente concedidos a militares regulares. Diferente dos soldados ligados ao Ministério da Defesa, os ex-presos que lutam pelas forças de Donetsk não têm direito a benefícios sociais. Mesmo o equipamento militar fornecido a eles é limitado, com relatos de combatentes que usam material retirado de soldados ucranianos mortos.

De quebra, os presos são frequentemente destacados para atuar em funções mais perigosas. Em dezembro de 2022, o Ministério da Defesa britânico divulgou um balanço de inteligência afirmando que combatentes recrutados nos presídios russos eram levados à Ucrânia para atuar na linha de frente e assim reduzir o risco à vida dos mercenários mais experientes do Wagner Group.

O relato era o de que os ex-presidiários, geralmente menos gabaritados, recebiam um tablet ou celular mostrando um mapa com a rota que deveriam seguir na linha de frente. Já os comandantes, aqueles com melhor treinamento, ficavam na retaguarda, onde o risco é consideravelmente menor, de acordo com o governo britânico.

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