Sérvia vendeu armas a Israel e mantém a transação sob sigilo, aponta investigação

Ao menos duas entregas de armamento e munição foram feitas desde o início do conflito em Gaza, avaliadas em mais de um milhão de euros

Uma investigação conduzida pelo site Balkan Insight revelou que o governo da Sérvia vendeu armas a Israel durante o conflito em Gaza e mantém a transação em segredo. Dados alfandegários mostram que ao menos duas entregas foram realizadas, mas o governo sérvio se recusou a fornecer os documentos relacionados ao acordo.

Os negócios realizados entre Belgrado e o Estado judeu são avaliados em mais de um milhão de euros e compreenderam duas entregas de armas e munições desde que o conflito no Oriente Médio teve início, em 7 outubro de 2023. Na ocasião, o Hamas realizou um ataque surpresa contra Israel e matou cerca de 1,2 mil pessoas, sequestrando outras 250, o que levou a uma resposta militar que prossegue até hoje.

As vendas foram confirmadas com base em dados aduaneiros coletados no portal Checkpoint, que armazena informações comerciais sérvias. As vendas foram realizadas pela Yugoimport-SDPR, uma empresa estatal local, com um acordo em outubro, avaliado em 540,12 mil euros, e outro em fevereiro deste ano, de 510 mil euros.

Exercícios militares do exército da Sérvia, em setembro de 2021 (Foto: reprodução/Facebook)

A fim de obter mais informações sobre os negócios, documentos foram solicitados ao Ministério do Comércio através da Lei de Liberdade de Informação da Sérvia. Na resposta, a pasta argumentou que os dados solicitados “trazem marcas de certo grau de sigilo, de acordo com a Lei de Sigilo de Dados”, e que sua entrega violaria um “segredo comercial”. Assim, negou o pedido.

A negativa, entretanto, é incomum. Segundo o site jornalístico, é apenas a segunda vez que um pedido do gênero foi recusado pelo Ministério, e mesmo negociações envolvendo armas são habitualmente compartilhadas.

A outra vez em que o governo se recusou a fornecer informações ocorreu em situação igualmente delicada, após um ataque realizado por cerca de 30 homens fortemente armados no Kosovo, em 24 de setembro de 2023. O primeiro-ministro kosovar Albin Kurti disse à época que eles agiram a mando de Belgrado, que buscava justificativas para uma invasão.

O Balkan Insight, então, foi em busca de informações sobre as armas e munições usadas no ataque, que teriam sido produzidas na Sérvia em 2022. O Ministério do Comércio, porém, se recusou a fornecer os documentos.

Civis mortos em Gaza

A ação do governo sérvio para esconder a venda de armas e munições a Israel sugere uma tentativa de se desvincular das acusações que pesam contra o Estado judeu.

Desde o contra-ataque israelense em Gaza, mais de 31 mil pessoas morreram, a maioria mulheres e crianças. A África do Sul chegou a solicitar uma investigação na Corte Internacional de Justiça (CIJ) alegando que crimes de guerra são cometidos no enclave, citando inclusive um possível genocídio.

Um caso parecido ao da Sérvia foi registrado na Escandinávia nesta semana, quando quatro ONGs abriram um processo judicial contra o governo da Dinamarca com o objetivo de suspender as vendas de armas a Israel.

As entidades alegam, na ação judicial, que equipar as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) torna o governo dinamarquês cúmplice de violações do direito internacional, incluindo crimes de guerra e um potencial genocídio.

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