A guerra na Ucrânia e a próxima eleição presidencial dos EUA foram os temas principais da cúpula da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em Washington neste mês. Porém, nos bastidores, os planejadores militares da aliança estão focados em calcular o alto custo para consertar as defesas vulneráveis da Europa. As informações são da Reuters.
No ano passado, os líderes da aliança militar aprovaram planos para a maior revisão de suas capacidades de defesa em três décadas, em resposta aos crescentes temores de agressão russa. Recentemente, autoridades têm analisado os requisitos mínimos de defesa necessários para esses planos, que foram enviados aos governos nacionais, conforme relatado por um planejador militar ouvido pela reportagem sob condição de anonimato.
Os requisitos mínimos da Otan destacam deficiências cruciais nos exércitos da aliança e estimam os bilhões de euros necessários para corrigi-las. A aliança planeja converter esses requisitos em metas obrigatórias para os governos até o outono de 2025. Em conversas com a Reuters, 12 autoridades europeias identificaram seis áreas prioritárias que precisam de atenção urgente.
Sob anonimato, as autoridades revelaram deficiências em defesas aéreas, mísseis de longo alcance, tropas, munição, logística e comunicações digitais seguras. A Otan não divulgou os custos totais. Essas falhas destacam desafios para alcançar objetivos, especialmente com restrições orçamentárias entre os principais membros europeus e diferenças sobre a postura em relação à Rússia.
A eleição presidencial dos EUA deste ano levantou preocupações sobre a possibilidade de que a Otan possa ser liderada por um crítico da aliança, o ex-presidente Donald Trump, que acusou os parceiros europeus de se aproveitar do apoio militar de Washington.
Na cúpula de Washington de 9 a 11 de julho, formuladores de políticas europeus reconheceram que, independentemente do resultado das eleições norte-americanas, a Europa precisará aumentar seus gastos militares. O secretário de Defesa britânico, John Healey, destacou que a prioridade dos EUA deve se deslocar para o Indo-Pacífico, obrigando as nações europeias da Otan a assumir mais responsabilidades.
Um funcionário da Otan afirmou que, em Washington, os líderes concordaram que, em muitos casos, seria necessário gastar mais de 2% do PIB para corrigir déficits. Atualmente, 23 membros da aliança atendem ou superam esse requisito mínimo.
A aliança militar está em seu nível máximo de alerta desde a Guerra Fria, com autoridades como o Ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, alertando que um ataque da Rússia nas fronteiras da aliança pode ocorrer nos próximos cinco anos.
Os planejadores da Otan estimam a necessidade de 35 a 50 brigadas adicionais para resistir a um ataque russo, o que corresponderia a 105 mil a 350 mil soldados. Isso significa que a Alemanha precisaria de três a cinco brigadas extras, ou 20 mil a 30 mil tropas adicionais, além das três divisões que está atualmente equipando.
Devido a desafios orçamentários, a Alemanha planeja reduzir pela metade sua ajuda militar à Ucrânia em 2025. Berlim espera que a Ucrânia cubra a maior parte de suas necessidades militares com os US$ 50 bilhões em empréstimos de ativos russos congelados aprovados pelo G7.
A Europa enfrenta limitações na capacidade ferroviária para transportar tanques e diferenças nas bitolas ferroviárias entre países, o que exige transferências entre trens. Além disso, a Otan precisa reforçar as defesas cibernéticas para proteger contra ataques que poderiam interromper o transporte de tropas e equipamentos.
A Europa deve estar preparada para mostrar sua força e posicionar tropas prontas para combate na linha de frente, se necessário, para desencorajar movimentos militares russos e também para começar a lutar rapidamente se as tensões se transformarem em guerra, segundo a fonte de planejamento.
Paralelamente, a aliança vem ampliando o investimento em armamento, também de forma a compensar a redução dos estoques devido ao fornecimento de armas e munição para a Ucrânia. No início deste mês, a NSPA, agência de compras da Otan, assinou um contrato de quase US$ 700 milhões para que os Estados-Membros produzam mais mísseis antiaéreos Stinger.