Otan acelera preparativos para um conflito com a Rússia e mantém 500 mil soldados de prontidão

Aliado de Putin afirma que a aliança se prepara para a guerra 'muito mais rápido do que algumas pessoas gostariam de ver'

A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) está se preparando “muito mais rápido do que algumas pessoas gostariam de ver” para um conflito com a Rússia. A afirmação foi feita nesta segunda-feira (22) pelo presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, conforme relatou a agência estatal russa Tass. E a fala está em sintonia com movimentações recentes da aliança e de seus membros.

Segundo Vucic, aliado do presidente russo Vladimir Putin, o atual apoio à Ucrânia é uma forma de a Otan enfraquecer Moscou sem ter que ingressar efetivamente na batalha. “O Ocidente gostaria de conduzir a guerra à distância, por meio de outra pessoa, por meio de investimento de dinheiro e assim por diante”, disse ele.

Tal terceirização militar, de acordo com o líder sérvio, justifica-se porque a aliança ainda “não está pronta” para uma guerra direta. “Eles estarão prontos? Eles não estão prontos agora, mas acho que estarão. Eles já estão se preparando para um conflito com a Federação Russa e estão se preparando muito mais rápido do que algumas pessoas gostariam de ver, em todos os sentidos.”

Soldados dos EUA e de países europeus membros da Otan (Foto: x.com/US_EUCOM)

A avaliação de Vucic surge em reação a uma manifestação de Farah Dakhlallah, porta-voz da Otan, que foi citado no domingo (21) pela rede CNN. “Desde 2014, a Otan passou pela transformação mais significativa em nossa defesa coletiva em uma geração”, declarou ele. “Colocamos em prática os planos de defesa mais abrangentes desde a Guerra Fria, com atualmente mais de 500 mil tropas em alta prontidão.”

A prontidão das tropas é apenas um dos sinais de que a Otan espera um confronto direto com a Rússia para os próximos anos. Outro indício nesse sentido é o alistamento militar obrigatório adotado por alguns países-membros, como foi destacado por analistas ouvidos pela CNN.

“É tragicamente verdade que aqui estamos, em 2024, e estamos lidando com as questões de como mobilizar milhões de pessoas para serem potencialmente jogadas em um moedor de carne de uma guerra. Mas é aqui que a Rússia nos colocou”, disse Robert Hamilton, chefe de pesquisa da Eurásia no think tank Foreign Policy Research Institute.

A Dinamarca, por exemplo, anunciou em março que o alistamento militar no país será estendido às mulheres. Também estabeleceu que o tempo de serviço será ampliado de quatro meses para 11, duas medidas voltadas a aumentar o número de reservistas à disposição de suas Forças Armadas.

Movimentação semelhante está nos planos da Alemanha. “Precisamos de mulheres e homens jovens fortes que possam defender este país”, declarou em junho o ministro da Defesa alemão Boris Pistorius, ressaltando a necessidade de uma “nova forma de serviço militar” que “não pode ser totalmente isenta de obrigações.”

A Letônia, por sua vez, aprovou em abril uma revisão em sua Lei do Serviço Militar, passando a permitir que estrangeiros sirvam em unidades especiais das Forças Armadas durante situações de emergência. “Estamos nos preparando para diversos cenários de ameaça militar, aprendendo com a experiência da Ucrânia”, afirmou o ministro da Defesa, Andris Spruds.

Paralelamente, a aliança vem ampliando o investimento em armamento, também de forma a compensar a redução dos estoques devido ao fornecimento de armas e munição para a Ucrânia. No início deste mês, a NSPA, agência de compras da Otan, assinou um contrato de quase US$ 700 milhões para que os Estados-Membros produzam mais mísseis antiaéreos Stinger.

De acordo com Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional dos EUA, os países se comprometeram ainda a elaborar planos para melhorar suas capacidades industriais de defesa, priorizando a produção de equipamentos essenciais para futuros conflitos.

“Então, agora temos uma guerra na Europa que nunca pensamos que veríamos novamente”, disse à CNN  o general da reserva Wesley Clark, que liderou as forças da Otan durante a Guerra do Kosovo. “Não está claro se esta é uma nova Guerra Fria ou uma guerra quente emergente. Mas é um aviso muito iminente para a Otan de que temos que reconstruir nossas defesas”.

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