Suécia oferece à Otan uma posição estratégica contra a Rússia, mas espera proteção

Ilha de Gotland, apelidada de 'porta-aviões gigante', tende a receber tropas da aliança, criando um problema para Moscou

A adesão da Suécia oferece à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) uma posição estratégica do Mar Báltico. Trata-se da ilha de Gotland, considerada por analistas militares o ponto mais importante da região e apelidada por muitos de “porta-aviões gigante”. Entretanto, o país escandinavo também vê a porção de terra como um local de especial interesse para a Rússia, e a ameaça levou o primeiro-ministro Ulf Kristersson a aceitar tropas estrangeiras posicionadas ali para garantir a proteção. As informações são do jornal Financial Times.

“Essa é uma coisa óbvia a ser discutida com os nossos novos aliados da Otan”, disse Kristersson em entrevista ao periódico, ao ser questionado sobre a relevância da ilha para a aliança. “Gotland sempre foi importante. Essa será uma das muitas coisas a discutir.”

Atualmente, a Suécia tem apenas uma pequena presença militar na ilha, que é vista pela Otan como uma perigosa fragilidade estratégica. Com a adesão da Suécia, a aliança passa a ter uma importante acesso a Kaliningrado, na Rússia, o que lhe garante uma vantagem militar em caso de eventual conflito. Mas terá que enviar soldados ao local.

Um bunker no povoado de Lickershamn, ilha de Gotland, no Mar Báltico (Foto: Helen Simonsson/Flickr)

“Existem algumas coisas em termos de como distribuir os nossos recursos, onde focar mais. E, obviamente, tudo o que tem a ver com o Mar Báltico é um candidato óbvio”, afirmou Kristersson. “Isso vale em termos de presença em Gotland, mas também em termos de vigilância, em termos de capacidades submarinas.”

Quem mais se beneficia com a adição da ilha à aliança são as três nações bálticas, Estônia, Letônia e Lituânia. Ex-repúblicas soviéticas, elas estão entre os alvos potenciais preferenciais de Moscou, e a presença de tropas ocidentais em Gotland daria a essas nações uma cobertura militar crucial.

“A presença de Gotland e Suécia na Otan muda todo o cálculo”, disse Krisjanis Kariņs, ministro das Relações Exteriores letão “Isso significa que o controle estratégico do Mar Báltico reverteria para a Otan”, acrescentou ele.

Até a década de 1990, ainda com a Guerra Fria em curso, a Suécia chegou a manter 25 mil soldados na ilha. Com o fim do conflito e a posição diplomática de neutralidade do país, quebrada somente pela adesão à Otan nesta ano, Estocolmo reduziu drasticamente suas tropas, que não chegam hoje a quatro centenas de combatentes. Agora, esse cenário será novamente alterado.

Em abril do ano passado, o think tank Atlantic Council publicou um artigo no qual afirma que “Gotland pode ser um divisor de águas para a defesa do Báltico.” No texto, os autores, Anna Wieslander e Eric Adamson, destacam um exercício militar realizado à época pelas tropas da Otan, o Aurora 2023, com a presença de soldados norte-americanos.

A Suécia sequer havia sido formalmente aceita na aliança, mas participou como convidada da manobras, que testaram a defesa de seu território contra “operações de influência e ataques híbridos que se transformam num conflito armado.”

O texto, então, explica por que Gotland é crucial para a defesa coletiva da Otan. “Na região do Mar Báltico, com as suas curtas distâncias geográficas, a liberdade de circulação será fundamental para operar na área”, dizem os autores.

Estocolmo chegou a avaliar que, em caso de uma invasão, a Rússia agiria contra a Suécia antes de atacar os países bálticos, para controlar a ilha e assim garantir uma posição privilegiada de ataque e defesa. Agora, com a presença da Otan por lá, o cenário para Moscou muda drasticamente.

“É uma questão que a Rússia entende muito bem”, declarou o chefe da diplomacia da Letônia.

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