Suécia planeja aumentar controles de fronteira devido à crise da queima do Alcorão

A situação de segurança se agravou nas últimas semanas devido a protestos envolvendo a profanação do livro sagrado dos muçulmanos

Diante da crise desencadeada por seguidos episódios de queima do Alcorão, que afeta a Suécia e a Dinamarca nas últimas semanas, Estocolmo pretende reforçar os controles de fronteira e verificações de identidade nos pontos de passagem. O primeiro-ministro, Ulf Kristersson, anunciou que o governo deve aprovar a medida na quinta-feira (3). As informações são da agência Associated Press.

Segundo o premiê, o objetivo é evitar que pessoas com poucas ou inexistentes conexões com a Suécia entrem no país para cometer crimes ou criar “ameaças à segurança nacional”, disse ele durante coletiva na terça-feira (1º).

Uma série de profanações do livro sagrado do Islã, realizadas por de ativistas anti-islâmicos, desencadeou protestos intensos em nações muçulmanas, incluindo o ataque à embaixada da Suécia no Iraque, que foi incendiada no mês passado.

Rasmus Paludan queima o Alcorão do lado de fora da embaixada turca em Estocolmo em janeiro de 2023 (Foto: WikiCommons)

Na semana passada, o serviço de segurança interna sueco emitiu um alerta preocupante: a situação de segurança do país piorou após os recentes episódios com o Alcorão e os protestos no mundo muçulmano, ambos prejudicando a reputação da nação nórdica.

Kristersson enfatizou a seriedade da situação, destacando que os interesses nacionais da Suécia estão sob ameaça. Ele tem mantido estreita comunicação com sua colega dinamarquesa, Mette Frederiksen, para “defender os valores” de ambos os países.

O primeiro-ministro também observou que, embora a queima ou profanação do Alcorão e outros textos religiosos não sejam especificamente proibidos por lei na Suécia, isso não significa que seja uma conduta apropriada. E enfatizou que algo ser legal não implica ser adequado, com a necessidade de o país refletir sobre a questão.

A agência de segurança também alertou que a atual reputação da Suécia pode atrair ameaças de indivíduos ligados a grupos islâmicos violentos. Portanto, é de extrema importância evitar a entrada de pessoas percebidas como potenciais ameaças ao país, enfatizou Kristersson.

Uma emenda à legislação já aprovada irá conferir à polícia sueca poderes ampliados para realizar verificações de identidade e revistas em veículos e pessoas nos pontos de fronteira. Essa medida foi anunciada pelo ministro da Justiça, Gunnar Strömmer, durante a coletiva de imprensa ao lado de Kristersson.

O ato de profanação tem sido amplamente condenado no mundo islâmico, mas na Suécia se tornou recorrente entre membros da extrema direita. Foi idealizado pelo político dinamarquês-sueco radical Rasmus Paludan, que ateou fogo no livro sagrado do Islã do lado de fora da embaixada turca na capital do país em janeiro.

Alegando respeito à liberdade de expressão, ao contrário de outros países, a Suécia geralmente permite protestos do gênero, mesmo aqueles que podem ser considerados provocativos.

Grupo Islâmico pede ação contra profanação

A Organização para a Cooperação Islâmica (OCI) realizou uma reunião de emergência online com seus ministros das Relações Exteriores para discutir incidentes recentes de queima e desfiguração do Alcorão em protestos na Suécia e Dinamarca, informou a rede Voice of America (VOA).

A organização, sediada na Arábia Saudita, instou seus 57 Estados-Membros a reduzirem laços com países que permitem o protesto, inclusive retirando embaixadores.

O grupo incentivou as organizações da sociedade civil nos países-membros a colaborarem com parceiros em nações onde o Alcorão foi queimado ou profanado. A ideia é que elas iniciem processos locais antes de recorrerem a órgãos judiciais internacionais, quando apropriado.

Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, criticou a declaração da OIC como fraca e incentivou a “juventude muçulmana” a agir por conta própria para resolver o problema, sem especificar como deveriam fazê-lo. Ele havia anteriormente sugerido punir aqueles que facilitam ataques ao livro sagrado do Islã.

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