Suécia rompe tradição e anuncia o envio de armamento militar à Ucrânia

Suecos não enviavam armas para um país em luta armada desde 1939, quando a União Soviética atacou a Finlândia

Rompendo uma tradição de mais de 80 anos sem enviar armamentos para um país em conflito, a Suécia anunciou no domingo (27) que enviará à Ucrânia equipamentos militares, incluindo lançadores antitanques. As informações são do site The Defense Post.

“Minha conclusão agora é a de que nossa segurança é melhor servida por apoiarmos a capacidade da Ucrânia de se defender contra a Rússia“, declarou em coletiva de imprensa a primeira-ministra Magdalena Andersson.

A premiê detalhou que serão enviadas a Kiev cinco mil armas antitanque do modelo Pansarskott 86, um lançador antitanque de uso único conhecido internacionalmente como Bofors AT-4. Também estão previstos no pacote de apoio militar armas, 135 mil rações de campo, cinco mil capacetes e cinco mil peças de armadura.

Sistema antitanque Robot-57 foi uma das solicitações feitas por Kiev para fazer frente às forças russas (Foto: WikiCommons)

Há uma coincidência histórica nisso. A última vez que a Suécia havia enviado armas para um país em guerra foi em 1939, quando a União Soviética atacou a Finlândia.

Os suecos abandonaram oficialmente a postura de neutralidade no final da Guerra Fria, mas permanecem oficialmente “não alinhados” e fora de alianças militares. O país não é um Estado-membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), mas é parceiro da aliança desde meados da década de 1990.

Em Estocolmo, a imprensa informou que a Ucrânia havia solicitado especificamente o sistema antitanque Robot-57, mais avançado e com capacidade para fazer frente a tanques e veículos blindados, citando o ministro da Defesa, Peter Hultqvist.

“É um sistema fácil de operar, não requer treinamento e pode ser manuseado por um único soldado”, acrescentou Hultqvist.

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho na quinta-feira (24), remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.

O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de quinta (24), de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.

Para André Luís Woloszyn, analista de assuntos estratégicos, os primeiros movimentos no campo de batalha sugerem um conflito curto. “Não há interesse em manter uma guerra prolongada”, disse o especialista, baseando seu argumento na estratégia adotada por Moscou. “Creio que a Rússia optou por uma espécie de blitzkrieg, com ataques direcionados às estruturas militares“, afirmou, referindo-se à tática de guerra relâmpago dos alemães na Segunda Guerra Mundial.

O que também tende a contribuir para um conflito de duração reduzida é a decisão da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) de não interferir militarmente. “Não creio em envolvimento de outras potências no conflito, o que poderia desencadear uma guerra mais ampla e com consequências imprevisíveis”, disse Woloszyn, que é diplomado pela Escola Superior de Guerra.

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