Tibetanos e uigures protestam contra Xi Jinping em Paris: ‘Ditador’

Pessoas de origens uigures, tibetanas e chinesas foram para as ruas em Paris protestar contra a visita do presidente chinês, erguendo cartazes que diziam "seu tempo acabou, ditador"

Durante o último final de semana, ativistas uigures, tibetanos e chineses foram às ruas de Paris com cartazes e bandeiras em protesto durante a visita de dois dias do presidente chinês, Xi Jinping, à capital francesa. O descontentamento dos povos oprimidos foram ilustrados por mensagens como “Liberte o Tibete. Ditador Xi Jinping, seu tempo acabou!”, exibidos em uma grande faixa branca ao longo do Boulevard Périphérique, por onde a comitiva presidencial passou no domingo (5), durante a rota para uma visita de Estado ao presidente francês Emmanuel Macron. As informações são da rede Radio Free Asia.

A bandeira do Tibete, um símbolo do movimento de independência tibetano, estava destacada no topo da faixa. A visita marca a primeira viagem de Xi à Europa desde 2019 e coincide com o 60º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a França e a China.

Tibetanos étnicos vindos da França, Bélgica, Hungria e outras nações se reuniram para expressar sua indignação diante das restrições impostas por Beijing à liberdade religiosa e cultural no Tibete. A China assumiu o controle da região em 1950, e, desde então, os tibetanos têm enfrentado violações de direitos humanos.

Bandeiras nacionais da França e do Tibete durante protesto em Paris (Foto: WikiCommons)

Os manifestantes também protestaram contra as violações dos direitos humanos, incluindo detenções arbitrárias em massa, na região de Xinjiang, no extremo oeste da China, onde os uigures habitam. Em Paris, a minoria étnica muçulmana buscou chamar a atenção para os abusos enfrentados por suas famílias e amigos. Os Estados Unidos e alguns parlamentos ocidentais caracterizaram a perseguição aos uigures pela China como genocídio e crime contra a humanidade.

Além dos manifestantes, ativistas de direitos humanos de diversas origens se uniram ao protesto, incluindo chineses, taiwaneses, mongóis e vietnamitas, assim como apoiadores pró-democracia de Hong Kong.

Tenzin Yangzom, coordenador de campanhas da Rede Internacional do Tibete, afirmou que “sob o governo de Xi Jinping, a situação no Tibete foi de mal a pior”, conforme declarado em um comunicado oficial.

Ainda no domingo, mais de mil manifestantes se reuniram na Place de la République, exibindo bandeiras tibetanas e cartazes em francês. Eles faziam apelos pelo fim da repressão no Tibete, pela libertação de prisioneiros tibetanos e pelo fim da construção de barragens pela China na região.

Reações no parlamento

Políticos franceses reagiram aos atos, pedindo ao presidente Macron que abordasse a questão do Tibete com Xi. Em uma carta assinada por 14 senadores em 2 de maio, eles apelaram pela retomada do diálogo sino-tibetano e pelo respeito aos direitos do povo tibetano.

“A retomada do diálogo sino-tibetano e o respeito pelos direitos do povo tibetano devem estar no centro da estratégia francesa em relação à China”, afirmava a carta. Isso fazia referência ao corte das negociações pelo governo chinês em 2010, entre Beijing e o Dalai Lama, sobre a questão da autonomia genuína dos tibetanos.

Durante o protesto, alguns ativistas pró-China, empunhando bandeiras chinesas, atacaram o grupo em três ocasiões separadas. Testemunhas relataram a presença de agentes chineses, identificados por seus óculos escuros, posicionados ao redor da praça, monitorando de perto as atividades dos manifestantes.

Liu Feilong, um dissidente chinês que vive na Holanda, deu sua opinião sobre Xi Jinping, chamando-o de “ditador”. Ele decidiu participar das manifestações em Paris após ver anúncios de protesto nas redes sociais. Segundo Liu, Xi não só prejudica as pessoas dentro da China, mas também representa uma “ameaça aos valores universais” ao se intrometer nos países democráticos da Europa e da América. Ele destacou que fugiu da China em busca de liberdade e encontrou na Holanda o ambiente de liberdade que buscava.

Próximos destinos

Após sua visita à França, Xi tem planos de visitar a Sérvia e a Hungria, dois países europeus que estão experimentando uma tendência em direção ao autoritarismo. Ambos são grandes beneficiários da Nova Rota da Seda (em inglês Belt and Road Initiative, ou BRI), que busca estabelecer conexões entre a China e outras nações.

Um dos projetos significativos incluídos nessa iniciativa é a construção de uma ferrovia de alta velocidade entre Budapeste e Belgrado. Essa ferrovia, financiada principalmente pela China, visa transportar mercadorias chinesas do porto grego de Pireu para a Europa.

Ao longo dos últimos quinze anos, a Sérvia desenvolveu uma parceria estratégica abrangente com a China, baseada numa estreita relação econômica e política. A China emergiu como o maior fornecedor individual de investimento direto estrangeiro da Sérvia, o seu segundo maior parceiro comercial depois da UE e um parceiro fundamental no tão necessário desenvolvimento de infraestruturas. A próxima visita de Xi à Sérvia oferece uma oportunidade para ambos os lados mostrarem as conquistas da sua cooperação ao longo da última década e meia.

Na Hungria, Xi se encontrará com o primeiro-ministro Viktor Orbán, que alinhou estreitamente a política externa da Hungria com a China e a Rússia na última década. Budapeste aderiu à BRI em 2015 e tem sido porta-voz de Beijing dentro da União Europeia no que tange histórico de direitos humanos da China e de Taiwan.

Espera-se que Xi discuta com Orbán vários dos projetos de infraestrutura em curso da BRI e chegue a acordos sobre novos. É provável que ele levante a questão da aceleração do projeto ferroviário de alta velocidade Belgrado-Budapeste durante as suas conversações em Belgrado e em Budapeste. 

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