Rússia planeja atos terroristas contra seus próprios cidadãos para culpar Ucrânia, diz militar

Inteligência da Ucrânia alerta que o terrorismo forjado ajudaria a narrativa do Kremlin e justificaria ataques ao inimigo

As forças russas estariam planejando ataques terroristas contra seus próprios cidadãos, declarou um oficial de defesa ucraniano na segunda-feira (11). A ação teria como objetivo jogar a culpa na Ucrânia, usando como narrativa uma vingança pelo massacre de Bucha. De quebra, o “terrorismo” justificaria novos ataques de Moscou ao país vizinho. As informações são da agência estatal Ukrinform.

A informação foi dada em um post no Facebook pelo major-general Kyrylo Budanov, chefe do departamento de inteligência do Ministério da Defesa da Ucrânia. Os ataques ocorreriam em Bryansk, Kursk e Voronezh, regiões fronteiriças ao norte e nordeste do país.

“Os serviços de inteligência russos estão planejando uma série de ataques terroristas a hospitais e escolas em assentamentos russos”, diz a publicação, que acrescenta: “O fracasso do plano de mobilização na Rússia obriga o regime de Putin a lançar cenários sujos para abalar emocionalmente a sociedade russa e consolidá-la ainda mais contra os ucranianos”.

Segundo Budanov, nos últimos dias, as autoridades russas têm aumentando significativamente a “histeria antiucraniana”. Os comentários do oficial ocorrem em meio a combates intensos entre os países. Na segunda-feira (11), um regimento ucraniano acusou o lado russo de usar armas químicas em civis em Mariupol.

“As forças de ocupação russas usaram uma substância venenosa de origem desconhecida contra militares e civis ucranianos na cidade de Mariupol, que foi lançada de um Veículo Aéreo Não-Tripulado (VANT) inimigo”, escreveu no Telegram o Batalhão Azov, uma milícia ultranacionalista incorporada à Guarda Nacional ucraniana.

Esta não seria a primeira vez que atos de terrorismo russos são orquestrados dentro do próprio quintal, diz o jornal Washington Examiner. Em fevereiro, quando Moscou ainda se posicionava para o início dos ataques, o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU, da sigla em inglês) interrompeu um plano do Kremlin para recrutar criminosos ucranianos, que receberiam milhares de dólares cada como pagamento para encenar um ataque terrorista em solo russo. Os homens tiveram a promessa de seus “contratantes” que seriam libertados após o término da missão, mas a SBU acredita que eles acabariam mortos.

A Catedral de São Basílio, em Moscou (Foto: pixabay.com)

Outra situação ocorreu em 1999, quando um ataque a um prédio residencial no centro de Moscou terminou com a morte de dezenas de russos. O episódio é conhecido como o “11 de Setembro Russo”, e suspeita-se que tenha sido forjado para legitimar a segunda incursão à Chechênia, que teve Vladimir Putin à frente.

Segundo o Washington Examiner, o Kremlin pode, assim, ver um ataque terrorista dentro do próprio território como uma forma de ganhar espaço para a campanha militar. “Tais ataques consolidariam o apoio popular russo à ‘operação especial'”, pondera a reportagem. E acrescenta: “Putin também pode ver um ataque de bandeira falsa como uma forma de justificar represálias ainda mais duras contra a população civil da Ucrânia”.

O Massacre de Bucha

Os corpos de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas da cidade ucraniana de Bucha quando as tropas locais reconquistaram a área, três dias após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.

As fotos mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do corpo, um indício de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.

“O massacre de Bucha prova que o ódio russo aos ucranianos está além de qualquer coisa que a Europa tenha visto desde a Segunda Guerra Mundial”, disse ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em sua conta no Twitter.

Após a divulgação das cenas chocantes, o presidente norte-americano Joe Biden pediu mais uma vez que Vladimir Putin seja julgado por crimes de guerra. “Vocês devem lembrar que fui criticado por chamar Putin de criminoso de guerra”, disse o líder norte-americano. “Bem, a verdade é que você viu o que aconteceu em Bucha. Isso garante: ele é um criminoso de guerra. Mas temos que reunir as provas”.

Moscou, por sua vez, nega as acusações. Através do aplicativo russo de mensagens Telegram, o Ministério da Defesa russo disse que, “durante o tempo em que a cidade esteve sob o controle das forças armadas russas, nenhum morador local sofreu qualquer ação violenta”. O texto classifica as denúncias como “outra farsa, uma produção encenada e provocação do regime de Kiev para a mídia ocidental, como foi o caso em Mariupol com a maternidade“.

Entretanto, imagens de satélite da empresa especializada Maxar Technologies derrubam o argumento da Rússia. O jornal The New York Times realizou uma investigação com base nessas imagens e constatou que objetos de tamanho compatível com um corpo humano aparecem na rua Yablonska entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.

Os mortos de Putin

Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia

Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.

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