Ucrânia tem mais pessoas mortas por munições cluster que a Síria, cuja guerra começou em 2011

Número de mortos tendo a aumentar bastante, conforme os EUA fornecem o armamento a Kiev para a sequência do conflito

Desde que a guerra da Ucrânia teve início, no dia 24 de fevereiro de 2022, mais de 300 pessoas morreram e cerca de 600 foram feridas em ataques realizados com munições cluster, cujo uso é amplamente condenado em todo o mundo. E, conforme o conflito avança, os números tendem a aumentar consideravelmente, vez que agora Kiev também passou a usar o armamento, fornecido pelos Estados Unidos. As informações são da agência Associated Press (AP).

As bombas cluster, ou bombas de fragmentação, se abrem no ar e despejam diversas submunições, pequenas bombas que atingem uma área consideravelmente maior a fim de ampliar o dano, reduzindo a chance de as pessoas se protegerem. Assim, mesmo que o alvo seja militar, a possibilidade de que civis sejam atingidos é consideravelmente maior.

Na Ucrânia, o armamento tem sido amplamente utilizado pelas forças da Rússia desde a invasão, levando o conflito atual a superar a guerra civil da Síria, iniciada em 2011, em número de mortos por munições cluster. Segundo a Cluster Munition Coalition (CMC), uma coalizão de ONGs que monitora o problema, desde que o registro de vítimas teve início, em 2010, o ano de 2022 é o mais violento pelo uso de bombas de fragmentação no mundo, com 1.172 vítimas, entre mortos e feridos.

Na Ucrânia, a ação mais mortífera de que se tem notícia com o uso de munições cluster ocorreu na cidade de Kramatorsk, onde 53 pessoas foram mortas e 135 se feriram quando uma dessas bombas atingiu uma estação de trem.

Submunição que se desprendeu de uma bomba cluster (Foto: CMC/Flickr)
Vítimas tardias

O que aumenta a letalidade do armamento é o fato de que algumas submunições não detonam no contato com o solo. Assim, ficam ali como minas terrestres, colocando em risco a população local mesmo no caso de o conflito se encerrar. Esse é um problema por exemplo no Iraque, onde munições cluster mataram 15 pessoas no ano passado, mesmo sem qualquer registro de novos ataques.

E as vítimas tardias invariavelmente são crianças, pois certas submunições se assemelham a pequenas bolas de metal e podem facilmente ser confundidas com brinquedos.

“As munições cluster são armas abomináveis ​​que são globalmente proibidas porque causam danos e sofrimento civil imediatos e de longo prazo”, disse Mary Wareham, diretora de defesa de armas da ONG Human Rights Watch (HRW). “É injusto que civis ainda morram devido a ataques com munições cluster 15 anos depois de estas armas terem sido proibidas.”

Washington sob críticas

O debate em torno da proibição ganhou força desde o início da guerra e ainda mais nas últimas semanas, após Washington enviar um carregamento de munições cluster à Ucrânia. Um tratado para proibir o uso de munições cluster está em vigor há 15 anos, como citou Wareham. Ele conta com a assinatura de 124 países, mas Rússia e EUA não aderiram.

De acordo com HRW, ao menos 21 líderes e funcionários governamentais, incluindo de países que apoiam o esforço de guerra da Ucrânia, criticaram a decisão do governo norte-americano.

“O maior obstáculo para os países que trabalham para erradicar as munições cluster são os governos que não estão dispostos a aderir à convenção e que minam os seus princípios ao usar ou transferir a arma”, disse Wareham. “No geral, os países que proibiram as munições cluster fazem progressos constantes na destruição dos seus arsenais e na limpeza de áreas contaminadas, apesar dos amplos desafios.”

Desde 2008, quando o tratado foi assinado, os signatários destruíram coletivamente quase 1,5 milhão de munições cluster e 178,5 milhões de submunições, o que representa 99% dos estoques declarados por esses países. Bulgária, Peru e Eslováquia destruíram um total de pelo menos 4.166 munições cluster e 134.598 submunições armazenadas durante 2022 e no primeiro semestre de 2023.

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