Wagner Group tem milhares de mercenários em Belarus, mas poder de fogo reduzido inviabiliza ataque

Analistas independentes e a inteligência ucraniana dizem que a organização paramilitar não representa uma ameaça imediata a Polônia e Ucrânia

O Wagner Group conta atualmente com algo entre 3.450 e 3.650 mercenários em Belarus, para onde se dirigiram após o motim na Rússia ocorrido entre 23 e 24 de junho. A presença dos combatentes em um país que faz fronteira com a Polônia, membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), mantém a aliança militar em alerta, mas o poder de fogo reduzido praticamente inviabiliza um eventual ataque. A avaliação foi feita por analistas independentes e pela inteligência ucraniana.

De acordo com o grupo belarusso de monitoramento Belaruski Hajun, a estimativa da quantidade de mercenários em território belarusso foi feita com base “no número confirmado de veículos” que chegaram ao país. O acampamento deles fica em Asipovichy, uma cidade na região central de Belarus cerca de 230 quilômetros a norte da fronteira com a Ucrânia.

Integrantes da organização paramilitar russa Wagner Group (Foto: VK/reprodução)

Tal informação é compatível com alegações do presidente belarusso Alexander Lukashenko, que levantou a questão em uma recente reunião com o líder russo Vladimir Putin em São Petesburgo.

No encontro, o ditador de Belarus disse que, devido aos ânimos inflamados na fronteira entre o país dele e a Polônia, mantém os mercenários na região central de Belarus, longe da fronteira com a Otan. “Não gostaria de realocá-los porque eles estão de mau humor”, afirmou Lukashenko.

Na mesma reunião com Putin, Lukashenko justificou sua cautela ao sugerir que o Wagner se prontificou a atacar a Polônia. “Talvez eu não devesse dizer isso, mas direi. Os wagneritas começaram a nos pressionar: ‘Queremos ir para o Ocidente. Deixe-nos ir.’ Eu perguntei por que eles precisam ir para o Ocidente. ‘Bem, vamos fazer uma excursão a Varsóvia, a Rzeszow’”, disse o ditador belarusso, citando cidades polonesas.

A ameaçadora fala de Lukashenko, porém, parece desconectada da realidade, de acordo com o think tank Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês). “Não há indicação de que os combatentes do Wagner em Belarus tenham o armamento pesado necessário para montar uma ofensiva séria contra a Ucrânia ou a Polônia sem um rearmamento significativo”, disse a entidade no domingo (23).

O ISW destaca, ainda, que o arsenal reduzido dos mercenários foi uma condição imposta por Putin no acordo com o Wagner intermediado por Lukashenko, que colocou fim ao motim de junho na Rússia e forçou parte do grupo a se mudar para Belarus.

“As forças do Wagner em Belarus não representam nenhuma ameaça militar para a Polônia ou a Ucrânia, a menos que sejam reequipadas com equipamentos mecanizados. Mesmo assim, eles não representam uma ameaça significativa para a Otan”, avalia o think tank.

A avaliação foi ratificada por Vadym Skibitsky, vice-chefe da principal agência de inteligência da Ucrânia. “Nossa avaliação é muito simples: hoje não há ameaça direta (de Belarus), mas estamos prontos. Estamos monitorando tudo relacionado ao chamado sistema de defesa antimísseis do Wagner”, disse ele a jornalistas, segundo a agência Associated Press (AP)..

Por ora, o Wagner tem à disposição entre 670 e 700 veículos, além de equipamento de construção para ampliar o acampamento, diz o Belaruski Hajun. O ISW fez avaliação idêntica, baseada em imagens de satélite. Foi ainda mais específico, dizendo que os veículos não têm poder de fogo. São, na verdade, carros, caminhões pequenos e reboques.

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