Washington acusa o Wagner Group de usar o território do Mali para transportar armas

Mercenários elaboraram um esquema para obter itens como drones, minas terrestres, radares e até sistemas de defesa antiaérea

O Wagner Group, organização paramilitar privada que dá suporte às forças armadas da Rússia, vem tentando usar o território do Mali para transportar armas a serem usadas na guerra da Ucrânia e assim driblar as sanções ocidentais que visam a enfraquecer as forças de Moscou. A denúncia foi feita no início desta semana pelo Departamento de Estado norte-americano, segundo informou a agência Reuters.

“Há indícios de que o Wagner está tentando comprar sistemas militares de fornecedores estrangeiros e encaminhar essas armas através do Mali como um terceiro”, disse Matthew Miller, porta-voz do órgão governamental dos EUA. “Ainda não vimos nenhuma indicação de que essas aquisições foram finalizadas ou executadas, mas estamos monitorando a situação de perto.”

Combatentes do Wagner Group, organização paramilitar privada aliada ao Kremlin (Foto: VK/reprodução)

Empresas e indivíduos de diversas nacionalidades tem sido sancionados por Washington por apoiarem os esforços da Rússia para equipar suas forças armadas. Por ora, entretanto, o governo norte-americano não deixou claro se haverá alguma sanção ao Mali, com quem os mercenários russos inclusive têm um acordo de cooperação para combater o extremismo islâmico no país africano.

A denúncia que pesa contra o Mali surgiu na semana passada, mas somente agora foi oficializada pelo Departamento de Estado. O país africano não é o único suspeito de aceitar eventuais cargas militares russas, segundo reportagem da rede CNN, embora outras nações não tenham sido citadas nominalmente.

Como disse Miller, não há provas de que as armas tenham sido efetivamente transportadas. Porém, os indícios sugerem que o objetivo dos mercenários é usar documentos falsos para driblar a fiscalização e assim entregar às tropas russas equipamentos como drones, minas terrestres, radares e até sistemas de defesa antiaérea.

Sanções funcionam?

As sanções lideradas por Washington têm impedido até mesmo a China, mais importante aliada da Rússia, de fornecer abertamente equipamento militar às tropas de Vladimir Putin. Beijing afirma reiteradamente que não entregará armas a nenhuma das partes envolvidas na guerra da Ucrânia, mas governos ocidentais suspeitam que empresas chinesas já desrespeitaram as proibições.

No começo de fevereiro, reportagem do Wall Street Journal (WSJ) revelou que foram enviados, a partir de Beijing, itens proibidos destinados a empresas de defesa do Kremlin embargadas pelos EUA. Na lista estariam equipamentos de navegação, tecnologia de interferência e peças de caças.

Mais tarde, em março, o site Politico revelou ter analisado uma série de documentos comerciais e alfandegários apontando que entidades russas receberam rifles de assalto, coletes à prova de bala e peças de drones de empresas chinesas no ano passado, já com a guerra em andamento.

Os documentos em questão, cedidos pelo ImportGenius, um agregador de dados alfandegários, mostram que o armamento de uso militar foi entregue como sendo “rifles de caça” usados por civis. Eles partiram da China North Industries Group Corporation Limited, uma empresa de defesa terceirizada que serve ao governo chinês, e foram recebidos pela russa Tekhkrim em junho de 2022.

As armas listadas nos documentos são rifles de assalta CQ-A, cujo projeto é baseado no norte-americano M16. Tais armamentos são usados por forças de segurança paramilitares chinesas e pelas forças armadas do Sudão do Sul e das Filipinas.

Os dois casos não deixam claro que Beijing tem fornecido armamento em grande escala a ser utilizado pelas forças armadas da Rússia na guerra. Mas os itens são considerados de uso duplo, com funções inclusive militares, e estão inseridos nas sanções ocidentais impostas à Rússia em função da guerra.

No caso específico do Wagner Group, a maior suspeita recai sobre a Coreia do Norte, que teria entregado armas aos mercenários russos em ao menos uma ocasião. A revelação foi feita em dezembro do ano passado por John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.

“Podemos confirmar que a Coreia do Norte completou uma entrega inicial de armas ao Wagner, que pagou por esse equipamento. No mês passado, a Coreia do Norte entregou foguetes de infantaria e mísseis à Rússia para uso do Wagner“, disse Kirby no final de 2022.

Os norte-coreanos não mostram qualquer preocupação com a proibição porque o país já é sancionada pelo governo norte-americano, estando assim isolado comercialmente. Ou seja, não tem nada a perder ao negociar.

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