Zelensky admite que falta de mísseis expôs usina de Trypilska a ataque russo

Sem um sistema de defesa antiaérea eficiente, uma das maiores usinas termelétricas ucranianas foi destruída por Moscou

“Por quê? Porque não tínhamos mais mísseis”. A precariedade do sistema de defesa aérea deixou a Ucrânia vulnerável a um ataque aéreo russo na semana passada, que resultou na destruição da maior central elétrica da região de Kiev, justificou o presidente Volodomyr Zelensky, direto e reto. As informações são da rede CNN.

Segundo Zelensky, a Rússia lançou 11 mísseis contra a termelétrica de Trypilska. Embora as defesas aéreas ucranianas tenham derrubado os primeiros sete mísseis, os quatro restantes atingiram e destruíram completamente o local.

“Ficamos completamente sem mísseis”, disse o líder ucraniano em uma entrevista ao PBS NewsHour que foi ao ar na segunda-feira (16). Trypilska era uma das maiores usinas do país, com capacidade de geração de 1.800 megawatts.

Termelétrica de Trypilska tinha capacidade de 1.800 megawatts (Foto: WikiCommons)

Zelensky tem alertado repetidamente os aliados sobre a fragilidade das defesas aéreas da Ucrânia, especialmente após Moscou renovar seus ataques à infraestrutura energética do país. No entanto, um pacote de ajuda militar dos Estados Unidos, vital para Kiev, tem sido bloqueado há meses pelos republicanos na Câmara do Congresso.

O presidente usou o ataque do fim de semana do Irã a Israel para ilustrar a capacidade dos países ocidentais em proteger os céus de seus aliados. No sábado (13), Teerã lançou cerca de 300 drones e mísseis de cruzeiro e balísticos contra o território israelense em um ataque sem precedentes, porém, com a assistência das defesas aéreas dos EUA, Reino Unido, França e Jordânia, o bombardeio foi neutralizado pelo “Domo de Ferro”.

Zelensky afirmou que Israel não teria capacidade para se defender sozinho contra um ataque tão extenso e poderoso, destacando a importância da defesa aérea e da aviação, recursos que, segundo ele, “francamente”, faltam à Ucrânia.

O líder também questionou o amplo apoio recebido por Israel dos membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), apesar de não ser membro da aliança.

Ele ainda observou que os aliados da aliança militar têm defendido Israel, “demonstrando às forças iranianas que Israel não está isolado”. Esta resposta, segundo Zelensky, é uma “lição” para aqueles que hesitam em ajudar a Ucrânia com medo de envolver os países da Otan na guerra.

Os aliados aprovaram pacotes de ajuda progressiva, mas a parcela principal do financiamento dos EUA, estimada em cerca de 60 bilhões de dólares, não foi levada a votação no Congresso pelo presidente da Câmara, Mike Johnson, resultando na interrupção de apoio norte-americano. Ele indicou na segunda-feira (15) que apresentaria um novo projeto de lei de financiamento para a Ucrânia até o final da semana, separado dos financiamentos para Israel e Taiwan. No entanto, a aprovação permanece incerta, com Johnson enfrentando oposição dentro de seu próprio partido.

Em outubro, Joe Biden solicitou cerca de US$ 61,5 bilhões para ajudar a fornecer armas à Ucrânia e repor os estoques dos EUA. No entanto, com os recursos para Kiev esgotados e o Congresso em impasse sobre políticas de segurança fronteiriças, Washington não conseguiu enviar a tão necessária assistência para o país invadido nos mesmos níveis dos últimos dois anos.

Momento delicado

O general britânico Sir Richard Barrons, em entrevista à rede BBC, declarou que parece cada vez mais próximo o momento em que os ucranianos notarão “que não podem vencer” a guerra.

Ao justificar seu pessimismo, ele usou a mesma matemática citada na semana pelo general norte-americano Christopher Cavoli, chefe do Comando Europeu das Forças Armadas dos EUA. Segundo ambos, a falta de munição força a Ucrânia hoje a enfrentar uma vantagem de cinco para um da Rússia em termos de disparos. Ou seja, cada disparo de artilharia ucraniano é respondido por cinco do lado russo.

“Estamos vendo a Rússia atacar na linha de frente, empregando uma vantagem de cinco para um em artilharia, munições e um excedente de pessoas reforçado pelo uso de armas mais recentes”, disse Barrons. “Em algum momento deste verão esperamos ver uma grande ofensiva russa, com a intenção de fazer mais do que avançar com pequenos ganhos para talvez tentar romper as linhas ucranianas.”

Tags: