China atinge pico da produção de carvão enquanto Índia faz paralisações devido à poluição

Eventos, que vão na contramão do projeto global de combate a mudanças climáticas, ocorrem pouco após os países travarem acordo final na COP26

A China anunciou na segunda-feira (15) que atingiu sua maior produção de carvão dos últimos anos. O pico da produção foi celebrado no mesmo dia em que autoridades da Índia, devido à poluição extrema, ordenaram o fechamento de escolas e pediram para que as pessoas trabalhassem de suas casas por conta dos níveis perigosos de poluentes. As informações são do jornal The Washington Post.

Ambos os episódios, protagonizados por dois dos maiores adversários da qualidade do ar, foram como um duro golpe no mundo em desenvolvimento, que escancaram a dificuldade de combater o aquecimento global poucos dias depois de encerrada a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021 (COP26).

Para analistas, o crescimento na produção de carvão pela China, o maior emissor de gases do efeito estufa do planeta, mostra que o presidente norte-americano Joe Biden pode ter pouca influência sobre o uso de combustíveis fósseis no mundo em desenvolvimento. Diante da alta dos preços do gás natural, crise de energia e com o inverno batendo à porta, Beijing parece estar à vontade para queimar carvão mais sujo e de menor custo, em meio aos problemas econômicos que afligem seus cidadãos.

Central elétrica alimentada a carvão na província de Henan, China (Foto: V.T. Polywoda/Flickr)

Para Michael Greenstone, diretor do Instituto de Política de Energia da Universidade de Chicago e consultor de economia da Casa Branca no governo Obama, a China, como qualquer outro país do mundo, não está apenas tentando minimizar as emissões de carbono, mas também “tentando equilibrar isso com as necessidades econômicas”.

“Às vezes, nas discussões sobre o clima, caímos na armadilha de pensar que os países estão apenas tentando minimizar as emissões. Isso não é verdade”, disse ele, acrescentando: “Eles estão tentando equilibrar o crescimento econômico, a poluição do ar local e evitar mudanças climáticas perturbadoras”.

Durante a cúpula climática em Glasgow, na Escócia, Estados Unidos e China selaram um acordo surpresa de cooperação em questões climáticas. Ambas as nações garantiram na COP26 que iriam “aumentar a ambição” nos próximos dez anos. Apesar de poucos detalhes, muitos delegados lançaram olhares otimistas para a resolução dos dois países que, juntos, respondem por cerca de 40% das emissões globais.

No entanto, no sábado (13), chineses e indianos exigiram uma mudança de última hora no acordo, que antes sugeria o abandono dos combustíveis fósseis. Assim, mudaram o texto de um compromisso de “eliminação progressiva do carvão” para uma promessa de “redução progressiva”.

Falando sob anonimato, um alto funcionário de Washington disse que, enquanto as delegações chinesa e americana elaboravam sua declaração conjunta, a linguagem sobre o carvão era “problemática”. De um lado, os Estados Unidos disseram que uma “redução gradual” seria o piso; do outro, a China disse que era o seu teto.

Poluição na Índia

Em Nova Délhi, que tenta retomar a vida em meio à pandemia de Covid-19, a poluição ultrapassou 20 vezes o limite recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) nesta semana.

Com o ar carregado, o governo praticamente impôs um novo lockdown, com fechamento de escolas e escritórios governamentais, além de paralisar a construção civil. O principal vilão também está sendo contido: usinas a carvão foram temporariamente fechadas para reduzir a poluição na capital.

Quem também contribui para o excesso da poluição do ar são os fazendeiros, responsáveis por queimar resíduos de colheitas a fim de limparem os campos em cidades dos Estados vizinhos. 

Tags: