Fome cresceu mais de 20% no mundo e atinge 193 milhões de pessoas, diz relatório

Documento diz que 193 milhões de pessoas enfrentaram “insegurança alimentar aguda” em 53 países ou territórios em 2021

O número de pessoas enfrentando níveis de crise de fome ou em situação ainda pior aumentou em 40 milhões no ano passado. O total está 22% acima do recorde registrado no ano anterior, 2020, segundo relatório da Rede Global Contra Crises Alimentares, publicado nesta quarta-feira (4).

A rede, que integra ONGs, a ONU (Organização das Nações Unidas) e a União Europeia (UE), alerta que a guerra na Ucrânia poderá piorar um cenário que já se vinha se agravando a um ritmo alarmante bem antes do conflito com a Rússia.

A nova publicação destaca que 193 milhões de pessoas enfrentaram “insegurança alimentar aguda” em 53 países ou territórios no ano passado. A realidade de meio milhão de pessoas requer ações de maior urgência para evitar a fome e a morte em países como Etiópia, Madagascar, Sudão do Sul e Iêmen.

Uma das constatações é a de que o mundo segue em direção errada, com uma alta da fome constante observada em 39 dos países ou territórios avaliados desde 2018. Apesar do aumento em 22% de pessoas passando fome, a tendência geral de piora continua.

O estudo destaca que a guerra é o principal motor da fome, acompanhada de mudanças climáticas e choques econômicos.

Ashley Mailey Bravo Vasquéz, 6 anos de idade, da Guatemala: fome é um problema global (Foto: Unicef)
Crise tridimensional

Em apelo à comunidade internacional, o secretário-geral da ONU pediu ação imediata. António Guterres destaca que a sexta edição do relatório global deve abalar o mundo, que já enfrenta a fome em uma escala sem precedentes, recordes de preços dos alimentos e milhões de vidas e meios de subsistência que estão em jogo.

O chefe da ONU destacou que o “conflito ucraniano é mais um peso na crise tridimensional de alimentos, energia e finanças com impactos arrasadores sobre pessoas e países mais vulneráveis ​​do mundo e suas economias”.

Para uma mudança de rumo, Guterres destaca as oportunidades oferecidas pela Agenda 2030, a Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU e a criação do Corredor de Coordenação de Sistemas Alimentares em Roma.

O chefe das Nações Unidas afirma que estes são os primeiros passos para evitar grandes aumentos na fome global, alcançar a segurança alimentar e promover a agricultura sustentável.

Os países lusófonos

Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique são os países lusófonos na lista com maior número de afetados pela insegurança alimentar aguda nos últimos dois anos. Em território angolano, mais de um milhão de pessoas foram agregadas aos 35 milhões que passaram a enfrenar crise ou pior situação em um quinquênio.

Entre os eventos extremos que prejudicaram a situação alimentar em Moçambique estão tempestades tropicais, chuvas torrenciais e inundações.

Já Cabo Verde registou o quinto ano consecutivo sem produção agrícola significativa, tal como aconteceu em diversas nações do Sahel. O país está entre 41 nações e territórios incluídos no relatório nos quais um número que varia entre 179 milhões e 181 milhões de pessoas devem estar em crise alimentar neste ano.

Guiné-Bissau vem mencionada no estudo pelos níveis de problemas de crescimento infantil próximos do limiar de 30% definido pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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