Maioria dos desastres ambientais tem relação com a água, alerta ONU

Estudo da Organização Meteorológica Mundial aponta que mudanças climáticas e atividades humanas desequilibram ciclo hidrológico global

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

O secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Petteri Taalas, alerta que a “esmagadora maioria” dos desastres ambientais que ocorrem no mundo atualmente está relacionada à água. 

Na quinta-feira (13), a agência da ONU divulgou um relatório que aponta o avanço do desequilíbrio do ciclo hidrológico, causado pelas mudanças climáticas e pelas atividades humanas.

O estudo destaca que secas e eventos extremos de precipitação estão causando um grande impacto nas vidas e economias. Na avaliação do chefe da OMM, a gestão e o monitoramento devem ser questões centrais das iniciativas de alertas precoces.

Petteri Taalas adiciona que os glaciares estão “derretendo diante dos nossos olhos”. A situação aumenta os riscos de inundações e ameaça a segurança hídrica de longo prazo de milhões de pessoas.

Ele alerta que cerca de metade do mundo tem experimentado um aumento nos eventos de inundação e um terço do planeta tem sofrido com a seca. 

O secretário-geral da OMM explica que, a cada grau de aquecimento do clima, a umidade da atmosfera aumenta em 7%.

Essa elevação de temperatura faz com que a atmosfera retenha mais umidade, causando chuvas mais intensas e inundações. No extremo oposto, o calor causa evaporação e secas mais intensas.

Carros estacionados enquanto a água sobe na cidade de Bernkastel-Kues, Alemanha, 19 de julho de 2021 (Foto: Dylan Leagh/Unplash)
Recursos globais

Para o secretário-geral da OMM, o estudo também é um apelo por compartilhamento de dados que permitam alertas precoces e políticas coordenadas e integradas de gestão da água como parte integrante da ação climática.

Segundo a agência da ONU, existem poucas informações sobre o verdadeiro estado dos recursos de água doce do mundo, o que dificulta o gerenciamento. A recomendação é que sejam ampliados o monitoramento e os recursos para o setor.

O estudo divulgado combina contribuições de dezenas de especialistas e complementa o relatório de Estado do Clima Global da OMM, a fim de fornecer informações integradas para os formuladores de políticas.

Atualmente, 3,6 bilhões de pessoas enfrentam acesso inadequado à água por pelo menos um mês por ano. A previsão é esperado de um aumento para mais de cinco bilhões até 2050, de acordo com a ONU Água.

Outros destaques

O relatório destaca os efeitos do rompimento do ciclo da água. No Brasil, o excesso de chuvas causou deslizamentos que resultaram na morte de 230 pessoas.

No verão de 2022, secas severas afetaram muitas partes da Europa, causando desafios no transporte em rios como o Danúbio e o Reno e interrompendo a produção de eletricidade nuclear na França devido à falta de água para resfriamento.

A cobertura de neve nos Alpes, crucial para alimentar grandes rios como o Reno, Danúbio, Ródano e Pó, permaneceu muito abaixo da média. Os Alpes europeus testemunharam níveis sem precedentes de perda de massa de geleira.

Alagamento em Bangladesh, em 2020 (Foto: FAO/Fahad Kaizer)

Segundo Taalas, o estudo aponta que as geleiras de montanha suíças, especialmente as alpinas, perderam cerca de 10% por cento de sua massa no ano passado e neste ano, estabelecendo um novo recorde.

Além disso, mais de 50% das áreas de captação global experimentaram desvios das condições normais de descarga dos rios. A maioria dessas áreas estava mais seca do que o normal, enquanto uma porcentagem menor apresentou condições acima ou muito acima do normal. 

Produção de alimentos

Outro alerta feito pelo chefe da agência da ONU é quanto à falta de água para atividades agrícolas, industriais e para a produção de energia hidrelétrica. 

Segundo a OMM, mais de 70% da água usada pelos seres humanos é destinada à agricultura e à produção de alimentos, sendo, portanto, absolutamente essencial para a segurança alimentar e nutricional. 

Em alguns países, a proporção representa mais de 90% de todas as retiradas de água dos sistemas. A água potável globalmente representa aproximadamente 10% a 12% da água usada para consumo direto ou uso doméstico. 

A OMM recomenda melhorias no gerenciamento do recurso, como o uso de tecnologias de irrigação mais eficientes e a escolha consciente das culturas plantadas e do ambiente.

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