Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News
Em um momento em que grandes incêndios florestais assolam Brasil e Portugal, além de países da América Latina e da Europa, os principais cientistas climáticos do mundo alertaram que as concentrações de gases de efeito estufa estão em níveis recordes.
O relatório “Unidos na Ciência”, divulgado nesta quarta-feira, afirma que se forem mantidas as políticas atuais, há uma probabilidade de 66% de que o aquecimento global chegue, ainda neste século, a 3°C acima dos níveis pré-industriais.
Longe das metas
Em reação aos dados do relatório, a secretária-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM) disse que “estamos longe de alcançar as metas climáticas globais”.
Falando a jornalistas em Genebra, Celeste Saulo, ressaltou que 2023 foi o ano mais quente já registrado “por uma margem enorme”. Ela acrescentou que os principais conjuntos de dados internacionais apontam que os primeiros oito meses de 2024 também são os mais quentes já registrados”.
Além das secas e dos incêndios em diversos países, graves inundações ameaçam a Europa Central após a tempestade Boris. No momento, a Itália está em alerta máximo, após evacuações em massa na Polônia, República Tcheca, Áustria e Romênia.
Em um apelo por uma ação global e urgente na Cúpula do Futuro, que será realizada em 22 e 23 de setembro, o relatório, que conta com envolvimento de diversas agências da ONU, ressaltou o potencial inexplorado das ciências naturais e sociais, novas tecnologias e inovação.
Satélites e tecnologias imersivas
Segundo o documento, essas abordagens podem ser um “divisor de águas” para a adaptação às mudanças climáticas, redução do risco de desastres e desenvolvimento sustentável.
As observações espaciais da Terra fazem parte das soluções destacadas no relatório, pois são cruciais para uma previsão do tempo eficaz e monitoramento ambiental.
A coordenadora científica da OMM, Lauren Stuart, explicou que “os satélites estão melhorando a capacidade de monitorar as emissões de gases de efeito estufa, o que é crucial para informar os esforços de mitigar as emissões e atingir as metas do Acordo Climático de Paris”.
Outro exemplo são as tecnologias imersivas, que estão unindo os mundos digital e físico. Um exemplo disso são os “gêmeos digitais”, que funcionam basicamente como uma replicação digital da Terra.
Esse sistema virtual serve para simular como responder em qualquer situação de crise e para melhorar a gestão da terra e da água. Já dentro de um metaverso, são reunidos mundos virtuais em um “sistema integrador” que oferece experiências imersivas, desde a simulação de eventos de inundação e seca até a previsão do fluxo de água e impactos na terra.
Abordagem transdisciplinar
Essas tecnologias permitem que os especialistas tomem decisões para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável universalmente acordados.
Segundo Celeste Saulo, a Inteligência Artificial e o aprendizado de máquina também são potencialmente transformadores e estão “revolucionando a previsão do tempo”, podendo torná-la “mais rápida, barata e acessível”.
A chefe da agência da ONU ressaltou a necessidade de uma “abordagem transdisciplinar”, onde uma diversidade de atores, incluindo cientistas, formuladores de políticas, comunidades indígenas e grupos da sociedade civil, criem soluções juntos.
Segundo ela, “a ciência deve ser o mecanismo motriz em todo o mundo para realmente transformar e dar mais oportunidades para as gerações futuras”. Celeste Saulo ressaltou que as decisões que tomamos hoje “podem ser a diferença entre um colapso futuro ou um avanço para um mundo melhor”.