A ajuda marítima a Gaza não pode substituir a ajuda terrestre, segundo a ONU

São necessários 300 caminhões com suprimentos diariamente para conter a crise humanitária que se instalou no enclave

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente em espanhol pela ONU News

Autoridades humanitárias da ONU (Organização das Nações Unidas) saudaram nesta terça-feira (12) a notícia de que um navio humanitário partiu do Chipre com destino a Gaza carregado com 200 toneladas de suprimentos de ajuda humanitária. Mas enfatizaram que “não é um substituto” para a ajuda terrestre.

“Qualquer alimento ou ajuda de emergência que chegue a Gaza, como todos sabemos, é desesperadamente necessário. Não há dúvidas sobre isso”, disse Jens Laerke, porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha). “Mas não substitui o transporte terrestre de alimentos e outras ajudas de emergência para Gaza e, em particular, para o norte de Gaza. Não pode compensar isso.”

Ensaio de ajuda marítima

Os comentários do responsável da ONU surgiram no momento em que a instituição de caridade internacional World Central Kitchen anunciou que o seu navio, Open Arms, partiu para Gaza, a cerca de 200 milhas náuticas de distância.

A ONG já trabalhou com equipes de ajuda da ONU em Rafah, no sul de Gaza, onde cerca de 1,5 milhão de pessoas procuraram refúgio no meio dos bombardeios e combates diários nos últimos cinco meses.

Destruição causada pelo conflito em Gaza (Foto: Omar Al-Qattaa/Unicef)
Proibições israelenses

O chefe da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (UNRWA) ainda condenou a recusa em permitir a entrada em Gaza de artigos de “dupla utilização”.

“Um caminhão cheio de ajuda acabou de ser rejeitado porque continha tesouras usadas em kits de primeiros socorros para crianças”, tuitou Philippe Lazzarini, comissário-geral da UNRWA.

“As tesouras médicas são agora adicionadas a uma longa lista de artigos proibidos que as autoridades israelenses classificam como ‘de dupla utilização’. A lista inclui artigos básicos e vitais: desde anestésicos, luzes solares, cilindros de oxigênio e ventiladores, até pastilhas de limpeza, água, medicamentos contra o câncer e kits de maternidade. É necessário facilitar e acelerar o envio de suprimentos humanitários e a entrega de itens básicos e críticos. A vida de dois milhões de pessoas depende disso, não há tempo a perder”, acrescentou.

Todas as opções

Questionado por jornalistas em Genebra se a ONU poderia usar o novo corredor marítimo entre o porto meridional de Larnaca, no Chipre, e Gaza, o porta-voz do Ocha respondeu que “devemos considerar todo e qualquer ponto de entrada para Gaza.”

Mas, após repetidas recusas das autoridades israelenses em permitir o acesso de comboios humanitários ao norte e devido às condições inseguras para as equipas de ajuda, o responsável da ONU insistiu que “também precisamos de acesso terrestre e de entregas seguras e regulares dentro de Gaza.”

Fome iminente

Por outro lado, a diretora do Programa Mundial de Alimento (PMA), Cindy McCain, alertou na segunda-feira (11) que a fome é “iminente” em Gaza e só será evitada se a ajuda humanitária aumentar “exponencialmente”.

No seu discurso em Roma, a diretora executiva do PMA sublinhou a séria preocupação com a população “em toda Gaza, particularmente no norte, que está à beira de sofrer uma catástrofe humanitária. Se não aumentarmos exponencialmente a ajuda que chega às zonas do norte, a fome é iminente. É iminente.”

A autoridade explicou que o PMA foi forçado a interromper as entregas de ajuda ao norte em 20 de fevereiro devido a preocupações “com a segurança do nosso pessoal e devido ao completo colapso da lei e da ordem.”

A chefe da agência da ONU insistiu que estão sendo estudadas todas as opções para aliviar a crise de fome no norte de Gaza, incluindo os envios aéreos, mas “jamais conseguirão suprir o volume necessário pelo acesso rodoviário.”

O acesso rodoviário “e a utilização dos portos e passagens de fronteira existentes são a única forma de levar ajuda a Gaza na escala que é necessária agora”, insistiu o responsável do PMA. “Precisamos que 300 caminhões de alimentos entrem em Gaza todos os dias”.

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