Bebês estão morrendo lentamente sob o olhar do mundo em Gaza, alerta o Unicef

Pelo menos dez crianças morreram de desidratação e desnutrição no Hospital Kamal Adwan, no norte, nos últimos dias

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente em inglês pela ONU News

Um alto funcionário do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) apelou por um acesso humanitário mais amplo e seguro em Gaza, onde bebés subnutridos estão morrendo lentamente enquanto o mundo assiste.

“As mortes de crianças que temíamos estão aqui”, disse Adele Khodr, Directora Regional do Unicef para o Médio Oriente e Norte de África, num comunicado divulgado no domingo.

Pelo menos dez crianças morreram de desidratação e desnutrição no Hospital Kamal Adwan, no norte, nos últimos dias, segundo relatos.

Desamparo e desespero

Khodr alertou que “provavelmente há mais crianças lutando pelas suas vidas” num dos poucos hospitais restantes no enclave, e talvez ainda mais no norte, que não têm acesso a cuidados de saúde.

Ela disse que os pais e os médicos devem sentir uma sensação insuportável de desamparo e desespero quando percebem que a ajuda vital está sendo mantida fora do alcance, mesmo que esteja a apenas alguns quilômetros de distância. 

“Mas pior ainda são os gritos angustiados daqueles bebês que perecem lentamente sob o olhar do mundo”, disse ela. “As vidas de milhares de bebês e crianças dependem de medidas urgentes que sejam tomadas agora.”

Cidadãos de Gaza em busca de comida (Foto: UNICEF/UNI495571/ZAGOUT)
Preocupação com o norte de Gaza

O Unicef teme que mais crianças morram, a menos que a guerra termine e as barreiras à ajuda humanitária sejam imediatamente resolvidas.

Khodr disse que a falta generalizada de alimentos nutritivos, água potável e serviços médicos é uma consequência direta dos impedimentos ao acesso e dos múltiplos perigos enfrentados pelas operações humanitárias da ONU.

A situação afeta crianças e mães, dificultando a sua capacidade de amamentar seus bebês. Este é especialmente o caso no norte de Gaza, onde as pessoas estão famintas, exaustas e traumatizadas, com muitas delas agarradas à vida.

Restrições de ajuda ‘custam vidas’

“A disparidade nas condições no norte e no Sul é uma prova clara de que as restrições à ajuda no norte estão custando vidas”, disse ela.

O Unicef e o Programa Mundial de Alimentos (PMA) realizaram exames de desnutrição no norte em janeiro. As equipas descobriram que quase 16% das crianças com idade igual ou inferior a dois anos, uma em cada seis, sofrem de subnutrição aguda. 

Avaliações semelhantes realizados no sul, em Rafah, onde a ajuda tem estado mais disponível, mostraram que 5% das crianças nesta faixa etária sofrem de subnutrição aguda.

Evite a fome, salve vidas

“As agências de ajuda humanitária como o Unicef devem ser capacitadas para inverter a crise humanitária, prevenir a fome e salvar vidas de crianças”, afirmou Khodr. “Para isso, precisamos de múltiplos pontos de entrada confiáveis ​​que nos permitam trazer ajuda de todas as passagens possíveis, incluindo o norte de Gaza, e garantias de segurança e passagem desimpedida para distribuir ajuda, em grande escala, em toda Gaza, sem negações, atrasos e impedimentos de acesso.”

Ela lembrou que o Unicef tem soado o alarme desde outubro de que o número de mortos em Gaza aumentaria exponencialmente se uma crise humanitária surgisse e fosse deixado que se agravasse. 

A situação só piorou, e na semana passada a agência alertou que uma explosão no número de mortes de crianças era iminente se a crescente crise nutricional não fosse resolvida.

“Agora, as mortes de crianças que temíamos estão aqui e provavelmente aumentarão rapidamente, a menos que a guerra termine e os obstáculos à ajuda humanitária sejam imediatamente resolvidos”, disse ela.

Tags: