Conteúdo adaptado de material publicado originalmente em inglês pela ONU News
Um alto funcionário do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) apelou por um acesso humanitário mais amplo e seguro em Gaza, onde bebés subnutridos estão morrendo lentamente enquanto o mundo assiste.
“As mortes de crianças que temíamos estão aqui”, disse Adele Khodr, Directora Regional do Unicef para o Médio Oriente e Norte de África, num comunicado divulgado no domingo.
Pelo menos dez crianças morreram de desidratação e desnutrição no Hospital Kamal Adwan, no norte, nos últimos dias, segundo relatos.
Desamparo e desespero
Khodr alertou que “provavelmente há mais crianças lutando pelas suas vidas” num dos poucos hospitais restantes no enclave, e talvez ainda mais no norte, que não têm acesso a cuidados de saúde.
Ela disse que os pais e os médicos devem sentir uma sensação insuportável de desamparo e desespero quando percebem que a ajuda vital está sendo mantida fora do alcance, mesmo que esteja a apenas alguns quilômetros de distância.
“Mas pior ainda são os gritos angustiados daqueles bebês que perecem lentamente sob o olhar do mundo”, disse ela. “As vidas de milhares de bebês e crianças dependem de medidas urgentes que sejam tomadas agora.”
Preocupação com o norte de Gaza
O Unicef teme que mais crianças morram, a menos que a guerra termine e as barreiras à ajuda humanitária sejam imediatamente resolvidas.
Khodr disse que a falta generalizada de alimentos nutritivos, água potável e serviços médicos é uma consequência direta dos impedimentos ao acesso e dos múltiplos perigos enfrentados pelas operações humanitárias da ONU.
A situação afeta crianças e mães, dificultando a sua capacidade de amamentar seus bebês. Este é especialmente o caso no norte de Gaza, onde as pessoas estão famintas, exaustas e traumatizadas, com muitas delas agarradas à vida.
Restrições de ajuda ‘custam vidas’
“A disparidade nas condições no norte e no Sul é uma prova clara de que as restrições à ajuda no norte estão custando vidas”, disse ela.
O Unicef e o Programa Mundial de Alimentos (PMA) realizaram exames de desnutrição no norte em janeiro. As equipas descobriram que quase 16% das crianças com idade igual ou inferior a dois anos, uma em cada seis, sofrem de subnutrição aguda.
Avaliações semelhantes realizados no sul, em Rafah, onde a ajuda tem estado mais disponível, mostraram que 5% das crianças nesta faixa etária sofrem de subnutrição aguda.
Evite a fome, salve vidas
“As agências de ajuda humanitária como o Unicef devem ser capacitadas para inverter a crise humanitária, prevenir a fome e salvar vidas de crianças”, afirmou Khodr. “Para isso, precisamos de múltiplos pontos de entrada confiáveis que nos permitam trazer ajuda de todas as passagens possíveis, incluindo o norte de Gaza, e garantias de segurança e passagem desimpedida para distribuir ajuda, em grande escala, em toda Gaza, sem negações, atrasos e impedimentos de acesso.”
Ela lembrou que o Unicef tem soado o alarme desde outubro de que o número de mortos em Gaza aumentaria exponencialmente se uma crise humanitária surgisse e fosse deixado que se agravasse.
A situação só piorou, e na semana passada a agência alertou que uma explosão no número de mortes de crianças era iminente se a crescente crise nutricional não fosse resolvida.
“Agora, as mortes de crianças que temíamos estão aqui e provavelmente aumentarão rapidamente, a menos que a guerra termine e os obstáculos à ajuda humanitária sejam imediatamente resolvidos”, disse ela.