Apenas 24% das missões de ajuda humanitária foram liberadas em Gaza

Israel recusa passagem de combustível e remédios, agravando riscos de saúde e sobrecarregando os hospitais em meio ao conflito

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) informou que apenas 24%, ou sete das 29 missões planejadas para entregar alimentos, remédios, água e outros suprimentos vitais, chegaram ao norte de Wadi Gaza nas duas primeiras semanas de janeiro.

A representante do Ocha, Olga Cherevko, considerou a situação “terrível” na região, especialmente para os deslocados no sul de Gaza. Em um vídeo divulgado em sua rede social, ela afirmou que “algumas pessoas não comem há dias”, as crianças não possuem de roupas de inverno e não há atendimento médico suficiente, ressaltando a enormidade das necessidades.

Caminhões do Unicef com água aguardam no Egito para entrar em Gaza (Foto: UNICEF/Ragaa)
Combustível e medicamentos recusados

Em sua última atualização sobre a guerra divulgada no último domingo, o Ocha observou que a maioria das negativas israelenses envolveu combustível e medicamentos alocados para reservatórios, poços de água e instalações de saúde ao norte de Wadi Gaza.

O Escritório da ONU alerta que a falta de combustível para água, saneamento e higiene aumenta os riscos de saúde e ambientais. O Ocha também aponta que a ausência de medicamentos enfraqueceu a funcionalidade dos seis hospitais que operam parcialmente.

Os bombardeios aéreos, terrestres e marítimos israelenses, as operações terrestres e os confrontos com grupos armados palestinos persistiram em grande parte da Faixa de Gaza. Simultaneamente, grupos armados palestinos continuaram lançando mísseis contra Israel.

Saúde segue sobrecarregada

Enquanto isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que o Complexo Médico Nasser, na cidade de Khan Younis, no sul do país, “continua a receber um grande volume de casos de trauma e queimaduras”. 

O hospital tem 700 pacientes, o que é o dobro de sua capacidade normal, enquanto a UTI e a unidade de queimaduras estão com falta de profissionais. O fato ocorreu após um apelo de cessar-fogo a todas as partes emitido na segunda-feira pelo secretário-geral da ONU, António Guterres.

Ele também pediu a libertação imediata e incondicional de todos os reféns feitos durante os ataques terroristas de 7 de outubro e a investigação completa de todas as alegações de violência sexual cometidas por militantes palestinos.

Entrada de ajuda humanitária impossibilitada

“Não podemos efetivamente fornecer ajuda humanitária enquanto Gaza sofrer bombardeios pesados e generalizados”, disse Guterres, que expressou preocupação com a “destruição em massa” e níveis “sem precedentes” de vítimas civis durante seu mandato como secretário-geral. 

Ele adicionou que, apesar de algumas medidas para aumentar a assistência humanitária, a ajuda não está chegando às pessoas que enfrentam meses de ataques implacáveis. “A longa sombra da fome está perseguindo o povo de Gaza – juntamente com doenças, desnutrição e outras ameaças à saúde”, ressaltou.

Direitos Humanos

Ainda na terça-feira (16), relatores de Direitos Humanos da ONU alertam que Israel está destruindo o sistema de alimentação em Gaza e usando a falta de acesso a comida como forma de ataque.

Ações como bloqueio de acesso a terras agrícolas e ao mar, destruição de casas, bombardeios indiscriminados e colapso do sistema de saúde são apontadas como contribuintes para condições de fome, desnutrição, doenças e sofrimento generalizado da população em Gaza.

O grupo de especialistas aponta que os habitantes de Gaza agora representam 80% de todas as pessoas que enfrentam fome em todo o mundo, marcando uma crise humanitária sem paralelo em meio a continuação de bombardeios e o isolamento da região por Israel.

Os especialistas lembram que desde 9 de outubro, Israel impôs um “cerco total” a Gaza, privando 2,3 milhões de palestinos de água, alimentos, combustível, medicamentos e suprimentos médicos. O bloqueio, que já durava 17 anos antes do início da guerra, contribuiu para a insegurança alimentar e dependência de ajuda humanitária.

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