A paraense Karina Raiol, de 29 anos, é mantida prisioneira desde 2016 em um campo de refugiados na Síria, após ser aliciada para se casar com um membro do Estado Islâmico (EI). Junto dela está o filho Abdullah, de seis anos, nascido prematuro no local. O destino da jovem continua envolto em mistério, enquanto sua família, em Belém (PA), luta para trazê-la de volta ao Brasil, segundo informações da Rede Record.
A brasileira chegou a ficar presa em Al-Hol, o maior campo de refugiados e deslocados internos na Síria, com cerca de 55 mil pessoas, sendo mais de 80% mulheres e crianças. Quase dez mil dos detidos são familiares de combatentes estrangeiros do EI que viajaram à Síria para se juntar à jihad. Eles foram colocados no campo após o grupo extremista ser derrotado em 2019 pelas FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA. Hoje ela está em outro campo, que é controlado por milícias curdas no norte da Síria.
Karina, que tinha apenas 21 anos em 2016, deixou sua casa em Belém (PA) sem saber dos reais interesses de seu futuro marido, um homem que alegava trabalhar para organizações humanitárias na Síria. Após começar a aprender árabe e se converter ao Islamismo, pegou um avião até Istambul, na Turquia, com destino final a Idlib, no noroeste da Síria, região marcada pelo conflito armado que assola o país.
O que Karina não sabia era que seu futuro marido era, na verdade, um soldado do Estado Islâmico, grupo extremista responsável por diversos ataques e atentados em todo o mundo. A suspeita é a de que ela tenha sido aliciada, como ocorreu com jovens de diversos países entre 2014 e 2019.
Até o momento, a repatriação de Karina e Abdullah não foi concretizada. A Defensoria Pública da União informou que o governo brasileiro não tomou ações efetivas para trazer mãe e filho de volta ao Brasil, o que gerou indignação entre os familiares.
Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que está acompanhando o caso de Karina e que está em contato com o governo sírio. No entanto, não se pronunciou oficialmente sobre a afirmação das autoridades curdas de que a repatriação depende apenas de negociações.
Rejeição
Muitas das milhares de pessoas detidas em campos são rejeitadas inclusive por seus países de origem, pois se radicalizaram a longo dos anos e representariam uma ameaça à segurança. Familiares de jihadistas são mantidos em um complexo separado e vigiado, após relatos de surtos de violência entre eles e outras pessoas dentro da instalação.
Com condições precárias de higiene e saúde, os moradores desses campos vivem à sombra da violência e da insegurança. São comuns as ações de grupos armados que tentam invadir o campo com o objetivo de libertar pessoas detidas.
“Milhares de pessoas estão expostas a violência, exploração, abuso e privação em condições que podem constituir tortura, conforme o direito internacional”, disse no início de 2021 um grupo de especialistas em direitos humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), citando que ao menos 57 países têm cidadãos detidos nos campos da Síria, sobretudo Al-Hol e Al-Roj.