Ataque a Rafah que deixou dezenas de mortos aumenta isolamento de Israel

O bombardeio israelense a um campo de refugiados na noite de domingo provocou condenações de autoridades em todo o mundo

Pelo menos 45 pessoas foram mortas e 200 ficaram feridas após um ataque israelense na noite de domingo (26) a um acampamento para deslocados em Rafah, no sul de Gaza, onde um milhão de pessoas estão abrigadas. Os militares israelenses afirmaram ter atacado um complexo do Hamas na área, resultando na morte de dois altos funcionários do grupo militante. Este é o mais recente evento trágico em mais de sete meses de conflito entre Tel Aviv e os combatentes palestinos, que levou autoridades mundo afora a condenar as ações das forças israelenses.

O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, condenou a ofensiva, a qual definiu como “horrível”. “As imagens do campo são terríveis e não indicam qualquer mudança nos métodos de guerra de Israel, que já resultaram em tantas mortes de civis”, declarou Türk em um comunicado nesta segunda-feira (27).

Türk instou Israel a suspender sua ofensiva terrestre em Rafah, conforme ordenado pela Corte Internacional de Justiça (CIJ). Além disso, pediu aos grupos armados palestinos que parassem os disparos indiscriminados de foguetes contra Israel, violando o direito humanitário internacional, e que libertassem todos os reféns detidos em Gaza imediatamente.

Tanques das Forças de Defesa de Israel em Rafah em maio de 2024 (Foto: WikiCommons)

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, também classificou os ataques como “horríveis” e instou Israel a interromper sua ofensiva em Rafah. “É terrível ver civis palestinos inocentes mortos no recente ataque. Não há zona segura para os deslocados internos em Rafah”, afirmou Michel em sua conta no X, antigo Twitter.

As relações entre a União Europeia (UE) e Israel sofreram um abalo na segunda-feira, à medida que membros do bloco, como Irlanda e Espanha, estavam prestes a reconhecer diplomaticamente um Estado palestino, repercutiu a agência Associated Press. Madrid enfatizou a necessidade de considerar sanções contra Israel devido aos seus contínuos ataques mortais na cidade de Rafah, no sul de Gaza.

Josep Borrell, chefe da política externa da UE, manifestou “horror” com os ataques mortais israelenses, enfatizando que essas ações “devem cessar imediatamente”.

Embora a UE e seus Estados-Membros tenham condenado o ataque liderado pelo Hamas em 7 de outubro, que resultou em 1,2 mil mortes e cerca de 250 reféns, o bloco também criticou a ofensiva retaliatória de Israel. Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, a ofensiva israelense resultou na morte de mais de 35 mil palestinos, sem fazer distinção entre combatentes e civis.

Um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA descreveu como “desolador” o ataque israelense em Rafah. Ele afirmou que Washington está ativamente envolvido com autoridades israelenses para esclarecer os eventos. O comunicado destacou, no entanto, que Israel tem o direito de perseguir o Hamas, e que o ataque teria eliminado dois importantes terroristas do grupo, responsáveis por ataques contra civis israelenses.

Enquanto isso, pelo X, o presidente francês Emmanuel Macron exigiu um “cessar-fogo imediato”. “Essas operações devem parar. Não há áreas seguras em Rafah para civis palestinos”, disse Macron. “Apelo ao pleno respeito pelo direito internacional e a um cessar-fogo imediato”.

O Ministério das Relações Exteriores do Egito condenou o ataque como uma violação flagrante do direito internacional humanitário. A pasta lamentou o evento trágico, denunciando o ataque a civis desarmados e uma política sistemática destinada a ampliar a morte e a destruição em Gaza, tornando-a inabitável, disse a rede Al Arabiya.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que seu país fará “todo o possível” para responsabilizar o “bárbaro” primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu pelos ataques mortais em Rafah. E declarou: “Faremos todo o possível para responsabilizar esses bárbaros e assassinos que nada têm a ver com a humanidade”.

“Erro trágico”, diz Netanyahu

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, admitiu que o fatal ataque aéreo resultou tragicamente em “erro”, repercutiu a rede CNN. “Apesar dos nossos melhores esforços para evitar danos aos não envolvidos, infelizmente ocorreu um erro trágico na noite passada. Estamos investigando o incidente”, afirmou Netanyahu em seu discurso na sede do poder legislativo do Estado judeu nesta segunda.

O porta-voz do governo israelense, Avi Hyman, indicou que as conclusões iniciais de uma investigação sobre a morte de 45 civis palestinos após o ataque a Rafah sugerem que eles podem ter morrido em um incêndio causado pelos ataques aéreos israelenses. Em uma entrevista à televisão britânica, Hyman afirmou que a “investigação está em curso” e evitou entrar em mais detalhes.

Testemunhas palestinas e a agência de verificação de fatos da agência Al Jazeera afirmaram que o campo que abriga civis em Tal as-Sultan foi deliberadamente atacado.

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