Ataque em mesquita do Afeganistão deixa ao menos seis pessoas mortas

Nenhum grupo assumiu a autoria do atentado, que carrega características típicas do Estado Islâmico-Khorasan, rival do Taleban

Um ataque armado dentro de uma mesquita do distrito de Guzara, província de Herat, no Afeganistão, deixou ao menos seis pessoas mortas na segunda-feira (29). De acordo com a rede Deutsche Welle (DW), um homem entrou no templo e disparou contra os fieis, mas algumas testemunhas relatem a presença de três atiradores.

Mufti Abdul Mateen Qani, porta-voz do Ministério do Interior do Taleban, grupo radical que governa o Afeganistão, usou a rede social X, antigo Twitter, para relatar o ataque. Ele fez referência a apenas um extremista como autor do atentado.

“Infelizmente, hoje, às 21h (horário local), na área de Shahrak, no distrito de Guzara, na província de Herat, um desconhecido armado atirou contra os fiéis comuns de uma mesquita na qual seis civis foram martirizados e um civil ficou ferido”, disse a autoridade talibã em seu perfil.

Nenhum grupo assumiu oficialmente a autoria do atentado, mas ele carrega características que apontam para o Estado Islâmico-Khorasan (EI-K). A principal delas, o fato de a mesquita ser frequentada pela comunidade xiita, que é o principal alvo da organização terrorista em seus ataques no Afeganistão.

Mesquita de Jumah, em Herat, imagem meramente ilustrativa (Foto: Mezkita Urdina/WikiCommons)
A ineficácia do Taleban

Em setembro de 2022, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório no qual afirma que o Taleban, desde que assumiu o governo de fato do Afeganistão, em 15 de agosto de 2021, tem sido ineficiente em sua obrigação de proteger a população, particularmente as minorias xiitas.

O documento foca particularmente no caso dos hazara, que foram perseguidos pelos próprios talibãs durante a passagem anterior do grupo pelo poder, entre 1996 e 2001. Atualmente, embora tenham se aproximado dos radicais que governam o país, tornaram-se alvo frequente do EI-K.

Até o momento do relatório, a HRW havia registrado 13 ataques do EI-K contra os hazaras desde que o Taleban chegou ao governo. Setecentas pessoas haviam morrido ou ficado feridas nessas ações, números que incontestavelmente aumentaram desde setembro do ano passado.

O descaso com a minoria xiita contraria uma das muitas promessas feitas pelo Taleban quando chegou ao poder. “Como governo responsável, somos encarregados de proteger todos os cidadãos do Afeganistão, especialmente as minorias religiosas do país”, disse em outubro de 2021 o porta-voz do Ministério do Interior Saeed Khosty, numa promessa que não vem sendo cumprida.

Um ataque marcante atingiu a Escola Abdul Rahim Shahid de ensino médio, em Dashti Barchi, no dia 19 de abril de 2022. Entre alunos, professores e funcionários, 20 pessoas foram mortas ou feridas na ação do EI-K. Uma segunda explosão ainda foi relatada no mesmo dia no Centro Educacional Mumtaz, a alguns quilômetros de distância.

Além de cobrar uma mudança de postura do Taleban, a fim de melhor proteger as minorias atingidas pelo EI-K, o relatório reivindica uma ação global que pressione os governantes afegãos nesse sentido.

“Os governos envolvidos com o Taleban devem exigir uma melhor proteção das comunidades hazara e xiita e devem incentivar e apoiar mecanismos para fortalecer a responsabilidade por crimes cometidos no Afeganistão, inclusive contra as comunidades hazara e xiita”, diz a ONG.

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