Ativista pela educação de meninas no Afeganistão segue preso pelo Taleban

Matiullah Wesa, que viaja pelo país tentando melhorar o acesso à educação para todas as crianças, foi detido pelo grupo fundamentalista

A campanha para que o Taleban liberte um ativista da educação de meninas preso no início desta semana em Cabul ganhou força na internet e no mundo nesta quarta-feira (29). Matiullah Wesa, idealizador e líder da Pen Path, uma ONG local que viaja pelo Afeganistão levando uma escola móvel e uma biblioteca às comunidades carentes de ensino, foi preso na capital afegã na segunda-feira (27). As informações são da rede BBC.

Wesa, de 30 anos, tem somado esforços para garantir que as meninas tenham o direito de ir à escola, e frequentemente enfrenta o regime jihadista para que reverta suas restrições de gênero no contexto educacional. A proibição às meninas no ensino médio, que foi imposta em março do ano passado no país, não ocorre em nenhum outro país de maioria muçulmana.

Relatórios locais disseram que as forças de segurança talibãs prenderam Wesa após seu retorno de uma viagem à Europa. Sua prisão ocorre após a detenção de vários outros ativistas que fazem campanha pela educação das mulheres. As autoridades extremistas não confirmaram sua detenção, paradeiro ou motivos da prisão.

Meninos já voltaram às aulas, mas meninas afegãs continuam impedidas de estudarMeninas têm aula no ensino fundamental em escola improvisada na província de Nangarhar, Afeganistão, abril de 2019 (Foto: Unicef/Marko Kokic)

No entanto, Abdul Haq Humad, diretor de publicações do Ministério da Informação e Cultura, defendeu o cárcere do ativista.

“Suas ações foram suspeitas e o sistema tem o direito de pedir uma explicação”, escreveu ele em sua conta no Twitter na terça-feira (28). “Sabe-se que a prisão de um indivíduo causou uma reação tão generalizada que uma conspiração foi evitada”.

O irmão de Wesa, Attaullah Wesa, relatou que agentes do Taleban cercaram a casa da família na terça, agrediram membros da família e confiscaram o celular de Matiullah.

Ativistas na internet criaram uma hashtag para fazer campanha pela libertação de Matiullah Wesa. Os posts condenam sua detenção e exigem liberdade imediata para o ativista.

Em seu último tweet antes de ser levado sob custódia, no domingo (26), Wesa publicou um vídeo de mulheres voluntárias do PenPath “pedindo os direitos islâmicos à educação para suas filhas”.

Excluídas

A perseguição implacável do Taleban às mulheres não as tirou somente da escola. Também fez os níveis de emprego feminino no Afeganistão caírem acentuadamente, de acordo com dados divulgados recentemente pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Um estudo da entidade, intitulado Emprego no Afeganistão em 2022: uma rápida avaliação de impacto, diz que, no quarto trimestre de 2022, o emprego feminino teve redução de 25% na comparação com o segundo trimestre de 2021, período que antecedeu a retirada das tropas dos EUA e aliados do país e a consequente insurreição dos extremistas.

As mulheres que tinham cargos no governo afegão antes da ascensão talibã seguem impedidas de trabalhar, e a cúpula do governo que prometia ser inclusiva é formada somente por homens. A perda do salário por parte de muitas mulheres que sustentavam suas casas contribui para o empobrecimento da população afegã.

Em uma fábrica de tapetes em Cabul, mulheres que foram ex-funcionárias do governo, estudantes do ensino médio ou da universidade agora passam seus dias tecendo tapetes, conforme reportagem da agência Associated Press (AP).

“Todas nós vivemos como prisioneiras, sentimos que estamos presas em uma jaula”, disse Hafiza, 22 anos, que atende apenas pelo primeiro nome e era estudante de Direito do primeiro ano antes de o Taleban retirar as mulheres das universidades. “A pior situação é quando seus sonhos são destruídos e você é punida por ser mulher”.

repressão de gênero é uma das principais razões citadas por nações de todo o mundo para que o Taleban não seja reconhecido como governo de direito do Afeganistão. Assim, o país segue isolado da comunidade internacional e afundado na pobreza, sem perspectiva imediata de gerar riqueza.

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