Ator e jogador de futebol estão entre os condenados à morte no Irã

Hossein Mohammadi, um astro do teatro iraniano, foi condenado na terça-feira sob acusação de ligação com a morte de um agente estatal

O ator de teatro iraniano Hossein Mohammadi, preso desde o dia 5 de novembro por envolvimento nos protestos populares que tomaram as duas do Irã desde setembro, está entre as cinco pessoas que foram condenadas a mortes pela Justiça do país nesta semana. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

Mohammadi foi condenada por envolvimento na morte de um membro da milícia Basij, grupo paramilitar voluntário a serviço da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês). A sentença dele, como tem sido habitual no repressor regime iraniano, foi anunciada na terça-feira (20) após um julgamento rápido, com apenas três audiências realizadas em seis dias e das quais ele sequer participou.

Quando foi preso, em novembro, o acusado chegou a dizer que seria libertado rapidamente, tão logo o “o mal-entendido fosse resolvido”. Porém, ele permaneceu preso, e no mês seguintes os amigos e parentes foram surpreendidos com o anúncio de que seria executado.

A condenação do ator levou colegas de palco a iniciarem uma campanha para que ele seja perdoado. Alguns diretores de teatro estariam em contato com figuras influentes do governo do Irã para tentar livrar Mohammadi da pena capital.

Hadi Ghaemi, diretor executivo da ONG Centro de Direitos Humanos no Irã (CHRI, na sigla em inglês), chegou a convocar uma mobilização da indústria do entretenimento global, pedindo que atores e diretores famosos se manifestassem contra a condenação.

O ator Hossein Mohammadi condenado à morte por participar de protestos no Irã (Foto: reprodução/IHRS)

Até agora, foram registradas ao menos duas execuções de cidadãos envolvidos com os protestos. A primeira pena capital foi cumprida na última quinta-feira (8), quando o rapper Moshen Shekari foi enforcado após ter o recurso de sua sentença rejeitado pela Suprema Corte do Irã. Ele foi acusado de “inimizade contra Deus” após supostamente ter ferido um membro do Basij durante os atos no país.

Um segundo manifestante foi executado no dia 12 de dezembro. Majidreza Rahnavard, de 23 anos, foi enforcado em público na cidade de Mashad, no nordeste do país. Ele foi condenado à morte sob acusação de ter esfaqueado dois membros da mesma milícia.

Há ao menos mais nove execuções confirmadas, que podem acontecer a qualquer momento. Uma delas é a do jogador de futebol Amir Nasr-Azadani, acusado de envolvimento na morte de dois integrantes do Basij e de um policial. Como nos demais casos, organizações humanitárias dizem que o julgamento dele foi irregular.

No caso de Nasr-Azadani, a condenação veio acompanhada de um vídeo no qual ele confessou o crime, com fortes indícios de que tenha sido coagido a falar. O crime dele, como na maioria dos casos de pena de morte ligados aos protestos, é o de “inimizade contra Deus”.

Por que isso importa?

Nos últimos meses, protestos populares tomaram as ruas do Irã após a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que visitava Teerã, capital do país, quando foi abordada pela “polícia da moralidade” por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres. Sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois.

Os protestos começaram no Curdistão, província onde vivia Mahsa, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da república islâmica. As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de dezenas de mortes.

No início de outubro, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório que classifica o regime iraniano como “corrupto e autocrático”, denunciando uma série de abusos cometidos pelas forças de segurança na repressão aos protestos populares.

De acordo com dados divulgados pela ONG Ativistas de Direitos Humanos do Irã (HRAI, na sigla em inglês), ao menos 503 pessoas morreram nas mãos de agentes estatais até o dia 19 de dezembro, entre elas 69 crianças. A entidade diz ainda que 18.452 pessoas foram detidas pelas autoridades sob a acusação de participar dos protestos.

Além dos mortos e feridos, a HRW cita os casos de “centenas de ativistas, jornalistas e defensores de direitos humanos” que, mesmo de fora dos protestos, acabaram presos pelas autoridades. Condena ainda o corte dos serviços de internet, com plataformas de mídia social bloqueadas em todo o país desde o dia 21 de setembro, por ordem do Conselho de Segurança Nacional do Irã.

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