Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News
Um pesadelo sem fim e um lugar inabitável. Essas foram as palavras usadas pelo comissário-geral da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA) para descrever a Faixa de Gaza.
Falando a jornalistas em Genebra na segunda-feira (30), Philippe Lazzarini disse que “as pessoas são confrontadas diariamente com doenças, mortes ou fome”.
Mais de 620 mil crianças traumatizadas
Ele ressaltou também que a população está agora presa e amontoada em apenas 10% do território que costumava ocupar antes do conflito.
Lazzarini afirmou ainda que as crianças em particular passaram por uma experiência traumática profunda e estão “perdendo a fé em um futuro melhor”. Segundo ele, existem mais de 620 mil meninas e meninos vivendo em áreas urbanas que estão profundamente traumatizados.
O comissário-geral revelou que tem tentado convencer Estados-Membros e parceiros de que a educação deve ser tornada uma prioridade coletiva para além das atividades de salvamento que estão sendo implementadas na Faixa de Gaza.
O chefe da UNRWA disse que a agência começou há um mês a trazer de volta algumas das crianças para o ambiente de aprendizagem, mas que é necessário garantir que a prática da leitura, escrita ou aritmética básica continuem acessíveis para essas crianças.
Lazzarini enfatizou que “o único bem que nunca foi tirado dos palestinos é a educação”.
Condições sanitárias desumanas
A UNRWA alertou neste fim de semana que montanhas de lixo estão se acumulando nas áreas centrais de Gaza à medida que o esgoto vaza para as ruas. As famílias não têm outra escolha senão viver ao lado dos resíduos acumulados, expostas ao mau cheiro e à ameaça de um desastre de saúde iminente.
A agência reforça que as condições sanitárias e de vida em Gaza são desumanas. Lazzarini disse que isso que explica por que a poliomielite, por exemplo, pode reaparecer rapidamente no enclave.
Comentando a situação no Líbano, ele disse que a UNRWA abriga atualmente 3,5 mil pessoas em nove diferentes locais, albergando não apenas refugiados palestinos, mas também sírios e libaneses que fogem do sul.
O chefe da da UNRWA disse que, no contexto mais amplo do Território Palestino Ocupado, o espaço de atuação da agência tem sido reduzido por ameaças e medidas legislativas. Segundo ele, há uma situação injusta onde um Estado-Membro da ONU está tentando rotular como terrorista uma agência com mandato definido pela Assembleia Geral.
Para Lazzarini, esse precedente vai muito além do contexto regional e “certamente pode enfraquecer” os instrumentos coletivos do sistema multilateral.