A proliferação de mísseis balísticos e o avanço de programas espaciais no Oriente Médio estão transformando o equilíbrio de poder na região, segundo o relatório Proliferação de mísseis balísticos e a ascensão dos programas espaciais do Oriente Médio, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS). O estudo revela como a convergência entre tecnologia de mísseis e atividades espaciais desafia regimes de controle de armas e gera tensões crescentes.
Entre os destaques, o relatório aponta o papel dual dos veículos lançadores de satélites (SLVs) na promoção de capacidades científicas legítimas e no avanço de programas de mísseis de longo alcance, especialmente no caso do Irã. Países como Israel, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos também estão intensificando seus investimentos espaciais, ampliando o impacto estratégico e comercial do setor.
O estudo evidencia que, embora as tecnologias espaciais estejam se tornando cada vez mais dissociadas de programas militares, a natureza dual de muitos sistemas, como satélites de observação e comunicação, abre brechas para aplicações bélicas, incluindo armas anti-satélite (ASAT). Essa dinâmica, segundo o IISS, pode desencadear uma corrida armamentista regional em uma área já marcada por rivalidades acirradas.
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Outro ponto de destaque é a disparidade nas abordagens regionais. Israel, por exemplo, é citado como líder tecnológico, com sistemas como o Arrow-3, capaz de interceptar mísseis em órbita e potencialmente destruir satélites. Já o Irã combina seu programa balístico com avanços no lançamento de satélites, gerando preocupações sobre o uso militar disfarçado de projetos civis.
Enquanto isso, países do Golfo Pérsico, como Arábia Saudita e Emirados Árabes, buscam consolidar seu papel no setor espacial global por meio de investimentos em satélites e infraestrutura, incluindo o desenvolvimento de lançadores próprios. A competição entre esses Estados alimenta o prestígio nacional, mas também reforça a percepção de uma corrida tecnológica com fins militares.
O relatório destaca que atores não-estatais, como Hezbollah e Houthis, estão se beneficiando indiretamente dessas tecnologias, usando mísseis de médio alcance e explorando serviços comerciais de satélites para ampliar suas capacidades estratégicas. Essa tendência é vista como uma ameaça emergente, com implicações graves para a segurança regional.
Por outro lado, o documento sugere que o espaço também oferece oportunidades para a cooperação regional. Iniciativas conjuntas em programas civis poderiam ajudar a construir confiança entre os países, ao mesmo tempo que se fortalecem normas internacionais para evitar conflitos no ambiente espacial.
O IISS ressalta que a diplomacia internacional tem um papel crucial na contenção dessas tendências, mas os atuais mecanismos de contenção enfrentam limitações.
“Os regimes internacionais de controle de exportação e mecanismos de monitoramento existentes historicamente ajudaram a conter a proliferação de mísseis, mas sua eficácia no Oriente Médio tem sido limitada e eles estão cada vez mais pressionados por avanços tecnológicos e dinâmicas geopolíticas”, diz o documento.
Com a crescente militarização do espaço e o uso intensivo de mísseis balísticos, o Oriente Médio está em um ponto de inflexão que pode definir sua segurança e estabilidade nas próximas décadas. Segundo o relatório, a chave será encontrar um equilíbrio entre o progresso tecnológico legítimo e os esforços para evitar uma escalada irreversível de tensões.
“No futuro, as políticas devem se concentrar em encorajar atividades espaciais legítimas, promovendo a cooperação regional no espaço e mantendo mecanismos de monitoramento robustos para detectar desvios dessa trajetória”, analisa o relatório.