Um forte esquema de policiamento foi organizado pelas autoridades do Irã no entorno da casa da família de Mahsa Amini, que foi morta em 16 de setembro de 2022 pelas forças de segurança do país. O objetivo é impedir que os parentes prestem qualquer homenagem pública à jovem dois anos após o crime. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).
Uma fonte próxima à família da jovem afirmou que o pai dela, Amjad Amini, recebeu uma ligação do Ministério da Inteligência iraniano no domingo (15). Ele e a mulher teriam sido ameaçados de prisão se saíssem de casa nesta segunda. A mesma pessoa relatou que helicópteros foram ouvidos sobrevoando as imediações da casa.
O governo iraniano sempre alegou que a jovem morreu em razão de um infarto, justificativa contestada globalmente. Em março deste ano, a Missão Internacional Independente de Apuração de Fatos sobre o Irã, da ONU (Organização das Nações Unidas), reconheceu a responsabilidade de Teerã.
Na ocasião, a Missão afirmou ao Conselho de Direitos Humanos que a morte de Mahsa Amini foi causada por ações do governo iraniano, concluindo assim uma investigação de cerca de um ano e meio.
“A nossa investigação estabeleceu que a morte dela foi ilegal e causada por violência física sob custódia das autoridades estatais”, disse Sara Hossain, presidente da Missão, concordando assim com a versão da família dela.
Hossain ainda condenou as ações de Teerã para conter os protestos populares que se seguiram à morte. As forças de segurança iranianas reprimiram as manifestações de forma violenta, com relatos de dezenas de mortes nas mãos da polícia e inúmeros casos de execuções judiciais abusivas, aplicadas contra manifestantes julgados às pressas.
“Estes atos foram conduzidos no contexto de um ataque generalizado e sistemático contra mulheres e meninas e outras pessoas que expressam apoio aos direitos humanos”, disse a autoridade da ONU. “Algumas destas graves violações dos direitos humanos atingiram assim o nível de crimes contra a humanidade.”
Por que isso importa?
Mahsa Amini, de 22 anos, visitava Teerã, capital do país, quando foi abordada pela polícia da moralidade por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres. Sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois.
Familiares alegam que a jovem foi violentamente agredida sob poder das autoridades. O governo, por sua vez, sempre afirmou que ela sofreu um ataque cardíaco.
A morte dela, em 16 de setembro de 2022, desencadeou protestos nacionais que começaram no Curdistão, província onde vivia a jovem, e depois se espalharam por todo o país, pedindo o fim da República Islâmica. As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de mortes, prisões e execuções judiciais.
Em outubro de 2023, Armita Garavand, uma adolescente de 17 anos, morreu em circunstâncias idênticas às da morte de Mahsa Amini. Testemunhas também acusam a polícia da moralidade iraniana de agredi-la, incidente ocorrido no metrô de Teerã e igualmente relacionado ao uso do hijab.
Como no caso de Mahsa, Armita foi internada, entrou em coma e morreu dias depois. O regime também nega responsabilidade pela morte e afirma que a adolescente sofreu uma queda de pressão, caiu de forma repentina e bateu a cabeça.