Erro cometido pelo governo britânico expõe mais de 250 intérpretes afegãos

Endereços de e-mails foram revelados devido a um deslize. Cidadãos teme represália do Taleban por terem atuado em apoio às forças estrangeiras

Um erro cometido pelo Ministério de Defesa do Reino Unido pode ter exposto as identidades de mais de 250 pessoas que trabalharam como intérpretes para as forças estrangeiras no Afeganistão. O governo anunciou que abriu uma investigação, após “colocar vidas em risco desnecessariamente”, informou o jornal britânico The Guardian.

O Ministério enviou um e-mail a um grupo de intérpretes que buscam asilo e pediram informações sobre a situação atual do processo de realocação. O problema é que os endereços de e-mails de todos eles foram copiados na mensagem, ficando assim expostos para todos os destinatários.

Soldado britânico conta com o suporte de um tradutor para conversar com um afegão (Foto: Jeffrey Duran/ US Army/Flickr)

Os afetados são afegãos e afegãs que ainda não conseguiram deixar o país ou que foram forçados a fugir para nações vizinhas. Eles temem a violenta repressão do Taleban contra todos que deram qualquer tipo de suporte às forças estrangeiras durante a ocupação. Num primeiro momento, o Ministério entrou em contato e deu orientações de como agir para reduzir os riscos.

“Esse erro pode custar a vida de intérpretes, principalmente de quem ainda está no Afeganistão”, disse um dos intérpretes à rede britânica BBC. “Alguns dos intérpretes não perceberam o erro e já responderam a todos os e-mails e explicaram a sua situação, o que é muito perigoso. O e-mail contém suas fotos de perfil e detalhes de contato”.

Por que isso importa?

Milhares de afegãos trabalharam como intérpretes, guardas de segurança e auxiliares para as forças estrangeiras nos últimos 20 anos, e agora temem ser alvo de violência por parte do Taleban. Somente no caso dos Estados Unidos, cerca de 18 mil pessoas se candidataram a receber o visto especial de imigrante. O reino Unido informa que tirou do Afeganistão cerca de 17 mil pessoas.

A ONG norte-americana No One Left Behind aponta que cerca de 300 civis que trabalharam como funcionários locais para as forças armadas dos EUA no Afeganistão foram mortos desde 2016.

O Taleban já classificou esses trabalhadores como “traidores” e “escravos”. Um comunicado do grupo extremista afirmou, em junho, que os civis só serão qualificados desta forma se “operavam diretamente nas fileiras do inimigo”. Entretanto, afirma também que, “quando eles abandonarem as fileiras inimigas e optarem por viver como afegãos comuns em sua terra natal, não enfrentarão nenhum problema”.

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