EUA apertam o cerco contra o Estado Islâmico e falam em evitar nova ameaça global

Forças norte-americanas anunciaram, somente em abril, três operações bem-sucedidas contra o grupo, com dois "líderes" mortos

Nos últimos meses, têm se acumulado as notícias sobre operações das forças armadas norte-americanas contra alvos do Estado Islâmico (EI), a maioria delas na Síria. Embora o “califado” do grupo extremista no país árabe tenha chegado ao fim em 2019, a ameaça ainda se faz presente. Segundo alertam autoridades e analistas, eventuais avanços dos insurgentes no território sírio representariam uma ameaça mais ampla, não apenas aos demais países do Oriente Médio, mas ao resto do mundo.

“Mesmo que eles não ressurjam como uma força territorial séria no Oriente Médio, a ameaça do EI como um grupo terrorista ressurgente, capaz de direcionar e inspirar ataques remotamente, não desapareceu”, disse à revista Newsweek Tom Wilson, diretor de política do think tank britânico Counter Extremism Group.

Somente neste mês de abril, o Comando Central (Centcom) das forças armadas dos EUA anunciou três operações bem-sucedidas contra o grupo extremista na Síria. A primeira delas, no dia 4, levou à morte de Khalid Aydd Ahmad al-Jabouri, identificado como um dos “líderes” do EI no país árabe e “responsável pelo planejamento de ataques na Europa”.

Outras duas vitórias foram anunciadas nos dias posteriores. Em 12 de abril, uma ação levou à captura de Hudayfah al Yemeni, um “facilitador” do EI, e dois de seus associados. Depois, na segunda-feira (17), um ataque realizado por helicópteros das forças armadas “resultou na provável morte” de mais um indivíduo, cujo nome não foi revelado, identificado apenas como “líder” da facção extremista.

Integrantes dos exércitos dos EUA e do Iraque exibem bandeira do Estado Islâmico (Foto: Flickr)

“As operações contra o EI são importantes para a segurança e estabilidade da região”, disse na semana passada o coronel Joe Buccino, porta-voz do Centcom. “O EI continua sendo uma ameaça para a região e além. O grupo mantém a capacidade de conduzir operações no Iraque e na Síria com o desejo de atacar além do Oriente Médio, e sua ideologia vil continua sendo uma ameaça. Operações como esta reafirmam nosso compromisso com a derrota duradoura do EI”.

As ações recentes das forças armadas norte-americanas se seguem a outras ainda mais bem-sucedidas em 2022. Na primeira delas, em fevereiro de 2022, igualmente na Síria, foi morto Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurashi, principal líder do EI. Já o sucessor dele, Abu al-Hassan al-Hashemi al-Qurashi, foi morto em novembro do ano passado, segundo anunciou o próprio grupo.

Ao longo do ano passado, Washington diz que suas operações de contraterrorismo levaram à morte de ao menos 686 membros do EI no Iraque e na Síria. Foram 108 operações conjuntas realizadas por forças norte-americanas e locais na Síria, com 466 mortos, e 191 no Iraque, com ao menos 220 mortos. Houve ainda outras 14 missões unilaterais das tropas dos EUA. Além dos mortos, 374 extremistas foram presos.

Na ocasião, o general Michael Kurilla, comandante do Centcom, destacou o apoio das forças armadas do Iraque e das Forças Democráticas Sírias (FDS), uma milícia curda aliada a Washington no combate ao EI no território sírio. “Hoje, eles demonstram alto nível de competência, profissionalismo e progresso na liderança de operações táticas, mas ainda há muito trabalho a ser feito”, afirmou o oficial.

De acordo com o Centcom, um importante foco do combate ao terrorismo são campos de detenção e prisões que guardam terroristas ou familiares de membros do EI. Um caso é o de Al-Hol, maior campo de refugiados e deslocados internos na Síria, com cerca de 55 mil pessoas, sendo mais de 80% mulheres e crianças. Outro é o da prisão síria de Al-Hasakah, onde houve uma tentativa de fuga em janeiro deste ano que terminou com mais de 400 insurgentes mortos.

“Existem, hoje, mais de dez mil líderes e combatentes do EI em centros de detenção em toda a Síria e mais de 20 mil líderes e combatentes do EI em centros de detenção no Iraque”, disse comunicado publicado em dezembro do ano passado, citando ainda as 25 mil crianças que vivem em locais como esses.

Dar atenção aos menores nesses campos é tão importante como atacar as células do EI, alertam os militares. “Essas crianças no acampamento são os principais alvos da radicalização do EI. A comunidade internacional deve trabalhar em conjunto para retirar essas crianças desse ambiente, repatriando-as para seus países ou comunidades de origem e melhorando as condições no campo”, afirmu o Centcom.

No Brasil

Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista Veja mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), os recentes anúncios do Tesouro causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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