Execuções no Irã aumentaram 75% em 2022, diz relatório de grupos de direitos humanos

582 execuções foram registradas em 2022, número bem acima das 333 penas capitais aplicadas em 2021

No ano em que uma onda de protestos antigovernamentais explodiu no Irã após a morte de Mahsa Amin, pelo menos 582 pessoas foram executadas. Em 2022, o aumento foi de 75% no número de aplicações de pena de morte em relação a 2021, segundo relatório divulgado na quinta-feira (13) por dois grupos de direitos humanos, o Iran Human Rights (IHR), com sede na Noruega, e o Together Against the Death Penalty (ECPM), baseado na França. As informações são da rede BBC.

“Mais uma vez, a pena de morte foi usada como uma ferramenta definitiva de intimidação e opressão pelo regime iraniano para manter a estabilidade de seu poder”, disseram as ONGs em comunicado conjunto.

É o número mais alto desde 2015 na República Islâmica, bem acima das 333 execuções relatadas em 2021. A estatística foi construída com base em anúncios oficiais e fontes dentro do Irã.

“Para introduzir medo na população e nos jovens manifestantes, as autoridades intensificaram as execuções de prisioneiros condenados por motivos não políticos”, acrescentou o diretor do IHR, Mahmood Amiry Moghaddam.

Protesto contra a pena de morte no Irã em San Francisco, nos Estados Unidos (Foto: Steve Rhodes/Flickr)

As organizações responsáveis pelos estudos definem o regime do presidente Ebrahim Raisi como uma “máquina de matar” destinada a “incutir medo” no país.

Segundo o estudo, 288 (49%) dos condenados à morte foram sentenciados por assassinato, o maior número em 15 anos. Entre eles estavam 13 mulheres e três pessoas que supostamente cometeram crimes quando eram crianças.

Outras 256 pessoas (44%), incluindo três mulheres, foram executadas após serem condenadas por acusações relacionadas a drogas, contra 126 em 2021 e 10 vezes mais que em 2020.

O relatório também aponta que membros da minoria muçulmana balúchi, principalmente sunitas, representaram 30% de todas as execuções em todo o país, embora sejam uma fatia de apenas entre 2 e 6% da população iraniana. “A pena de morte faz parte da discriminação sistemática e da repressão generalizada a que as minorias étnicas do Irã são submetidas “, diz o documento.

Diante desse cenário, os países ocidentais impuseram uma série de sanções a autoridades e entidades iranianas, acusando-as de repressão contra os manifestantes. As autoridades iranianas, por sua vez, culparam os EUA e seus aliados europeus por “instigar os manifestantes”.

Por que isso importa?

Desde setembro, protestos populares tomaram as ruas do Irã após a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que visitava Teerã, capital do país, quando foi abordada pela “polícia da moralidade” por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres. Sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois.

Os protestos começaram no Curdistão, província onde vivia Mahsa, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da república islâmica. As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de dezenas de mortes.

No início de outubro, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório que classifica o regime iraniano como “corrupto e autocrático”, denunciando uma série de abusos cometidos pelas forças de segurança na repressão aos protestos populares.

Além dos mortos e feridos, a HRW cita os casos de “centenas de ativistas, jornalistas e defensores de direitos humanos” que, mesmo de fora dos protestos, acabaram presos pelas autoridades. Condena ainda o corte dos serviços de internet, com plataformas de mídia social bloqueadas em todo o país desde o dia 21 de setembro, por ordem do Conselho de Segurança Nacional do Irã.

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