Explosão em escola no Afeganistão mata ao menos dez pessoas, a maioria estudantes

Nenhum grupo assumiu a autoria do ataque, mas uma fonte não identificada disse que possivelmente trata-se de um atentado suicida.

A explosão de uma bomba em uma escola religiosa no norte do Afeganistão matou ao menos dez pessoas na quarta-feira (30). O Taleban confirmou a informação, e o porta-voz do Ministério do Interior, Abdul Nafee Takkur, afirmou que as investigações foram iniciadas para “identificar os perpetradores e puni-los por suas ações”, segundo a rede BBC.

De acordo com um médico que atendeu algumas das vítimas em um hospital da região, os mortos e feridos são na maioria jovens que frequentavam a instituição educacional. “São crianças e pessoas comuns”, disse ele, que projeta mais vítimas que o número inicial e fala em 16 mortos, segundo o site The Defense Post.

Nenhum grupo assumiu a autoria do ataque, mas uma fonte cuja identidade não foi revelada disse à rede Gandhara que possivelmente trata-se de um atentado suicida.

Em setembro, um ataque semelhante ocorreu em um centro educacional de um bairro xiita de Cabul. Na ocasião, ao menos 54 pessoas, sendo 51 meninas e mulheres jovens, morreram quando realizavam uma prova para admissão no ensino superior.

O bairro de Dashti Barchi, alvo daquele atentado, é habitado principalmente por pessoas da minoria étnica dos hazara, que sofrem perseguição no país e nos últimos anos se tornaram um alvo preferencial do grupo extremista Estado Islâmico-Khorasan (EI-K).

Cabul: violência extremista cresceu após a saída das tropas dos EUA (Foto: Farid Ershad/Unsplash)
Por que isso importa?

Nos últimos meses, o Taleban entrou na mira da ONU (Organização das Nações Unidas) e de entidades humanitárias globais por sua inabilidade de governar o Afeganistão, inclusive no campo da segurança, e pela dura repressão que impõe sobretudo às mulheres e meninas afegãs.

Na abertura da 51ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em setembro, mais de 20 governos e entidades condenaram a repressão de gênero no Afeganistão. As críticas globais foram motivadas sobretudo pela proibição imposta às meninas na educação, com as escolas de ensino médio fechadas e alunas obrigadas a ficar em casa quando deveriam estar estudando.

No final de agosto, Josep Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia (UE), também havia condenado a atuação dos radicais como governantes afegãos de fato, pouco depois de eles completarem um ano no poder, no dia 15 daquele mês.

“O Afeganistão pode ter saído das manchetes. No entanto, a situação de seu povo é terrível”, dizia texto, listando ainda abusos cometidos pelos radicais que contrariam a moderação prometida após a tomada de poder. “Todas as meninas, apesar das promessas anteriores, são proibidas de estudar; vastas áreas do país são assoladas pela fome (70% da população); e muitos afegãos vivem com medo ou no exílio”.

Já em setembro, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou relatório destacando a ineficiência dos talibãs em sua obrigação de proteger a população local, especialmente algumas minorias xiitas, das ações violentas do EI-K. O documento foca particularmente no caso dos hazaras.

“Desde a tomada do Taleban, combatentes ligados ao Estado Islâmico cometeram vários ataques brutais contra membros da comunidade hazara enquanto iam para a escola, para o trabalho ou para rezar, sem uma resposta séria das autoridades do Taleban”, disse Fereshta Abbasi, pesquisador da ONG para o Afeganistão. “O Taleban tem a obrigação de proteger as comunidades em risco e ajudar as vítimas de ataques e suas famílias”.

O descaso com a minoria xiita contraria uma das muitas promessas feitas pelo Taleban quando chegou ao poder. “Como governo responsável, somos encarregados de proteger todos os cidadãos do Afeganistão, especialmente as minorias religiosas do país”, disse em outubro de 2021 o porta-voz do Ministério do Interior Saeed Khosty.

A promessa não cumprida chegou a ser citada pelo próprio Richard Bennett, que em maio deste ano pediu investigações sobre os ataques às comunidades hazara, xiita e sufi, destacando que eles estão “se tornando cada vez mais sistemáticos por natureza e refletem elementos de uma política organizacional, trazendo assim marcas de crimes contra a humanidade”.

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