Hackers antigovernamentais iranianos interromperam o discurso do presidente Ebrahim Raisi, transmitido no sábado (11) por um serviço online da televisão estatal. O líder falava durante as cerimônias do 44º aniversário da Revolução Islâmica de 1979 no momento em que ciberativistas do grupo Edalate Ali (“Justiça de Ali”, em tradução literal) entraram no ar. As informações são da rede CNN.
O corte durou 44 segundos e teve como objetivo fazer convocar o povo iraniano para participar de protestos nacionais marcados para quinta-feira (16). Sob o slogan “Morte a Khamenei” (líder supremo do Irã), os hackers também instaram os cidadãos a sacar seu dinheiro nos bancos governamentais.
Pelo Twitter, a organização hacker assumiu a invasão, dirigida à “nação amante da liberdade”.
ما گروه #عدالت_علی صدا و سیمای جمهوری اسلامی را هک نمودیم.
— Edaalate Ali Official – عدالت علی (@EdaalateAli1400) February 11, 2023
در ابتدا گروه عدالت علی دهه فجر و قدوم ناپاک خمینی جلاد به #ایران را به تمامی ملت آزادیخواه تسلیت عرض میکند.
هموطنان زیادی به ما مراجعه کردند و از ما خواستند فراخوان 27 بهمن را انعکاس بدهیم. (1/3) pic.twitter.com/YfdmkNPbPF
Têm sido dias difíceis desde setembro na nação árabe para Raisi, que conduz o país sob rígido regime. Protestos populares, amplamente formados por jovens manifestantes, tomaram as ruas do Irã após a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que visitava Teerã, capital do país, quando foi abordada pela “polícia da moralidade” por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres.
Durante semanas, num esforço pela demonstração de popularidade do presidente, a mídia estatal convocou a população para que participasse maciçamente do comício de sábado, como uma resposta aos protestos.
Antes de ter a transmissão invadida, Raisi disse que seu governo irá abraçar aqueles “que foram enganados durante os tumultos” e os receberá de volta “aos braços da nação”. O líder ainda citou o “amor paternal” de Khamenei e sua generosidade em perdoar os manifestantes presos. Seu discurso teve inúmeras interrupções pela multidão com palavras de ordem antiocidentais, como “Morte à América”, algo que acontece com frequência em eventos públicos organizados pelo regime. Bandeiras dos EUA e de Israel foram queimadas.
Segundo a Agência de Notícias de Ativistas de Direitos Humanos (HRANA, da sigla em inglês), dezenas de presos políticos e manifestantes foram libertados sob a anistia concedida por Khamenei no domingo (12).
No entanto, a soltura pode não ter sido um gesto de perdão. Ativistas compartilharam nas redes sociais que estão receosos de que muitos podem ter sido forçados a assinar promessas de não repetir seus “crimes” antes de voltar pra casa. O Judiciário iraniano rechaçou tais alegações.
Na sexta (10), a HRANA disse que, até então, 528 manifestantes haviam sido mortos, incluindo 71 menores de idade. Além dos civis, 70 soldados das forças de segurança do governo também perderam a vida. A estimativa é de que 19.763 manifestantes tenham sido levados sob custódia.
Segundo a rede Iran International, ex-funcionários do governo vêm exigindo nos últimos dias uma revisão da Constituição ou a redação de uma nova, formando uma assembleia constituinte e realizando referendos.
Em um comunicado divulgado no início deste mês, o ex-primeiro-ministro e líder da oposição pelo sufocado Movimento Verde, Mir-Hossein Mousavi, disse que o movimento de reforma falhou e é hora de fazer “mudanças fundamentais”.