Inundações em Gaza são o mais recente desastre que atinge palestinos desesperados, diz ONU

Autoridades de saúde dizem ter documentado 360 mil casos de doenças infecciosas, e números reais podem ser ainda maiores

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente em inglês pela ONU News

As fortes chuvas criaram nova miséria em Gaza, enquanto os humanitários da ONU (Organização das Nações Unidas) manifestavam sua profunda preocupação na quinta-feira (14) sobre a deterioração da situação da saúde no enclave, em meio aos contínuos bombardeios israelenses e aos combates entre Israel e grupos armados palestinos.

O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) disse que muitas áreas foram inundadas, “agravando a luta dos palestinos deslocados”.

Quase 1,9 milhão de pessoas no enclave foram desenraizadas pela violência e mais de metade procurou segurança na cidade de Rafah, no sul do país. Os abrigos da Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina (UNRWA) no sul da Faixa de Gaza estão nove vezes acima da sua capacidade, e dezenas de pessoas vivem ao ar livre, expostas às intempéries ou em abrigos improvisados.

Criança palestina em frente aos escombros de um edifício destruído em Gaza, 8 de outubro de 2023 (Foto: UNICEF/El Baba)
Emergência de água e saneamento

OCHA disse que nos abrigos superlotados o esgoto não pode ser gerenciado. Combinadas com as inundações e a acumulação de resíduos, as condições atraíram insetos, mosquitos e ratos, agravando ainda mais os riscos de propagação de doenças.

No início desta semana, as autoridades de saúde de Gaza afirmaram ter documentado 360 mil casos de doenças infecciosas em abrigos e que os números reais poderiam ser mais elevados.

Entretanto, na quarta-feira, os parceiros humanitários que prestam apoio em água, saneamento e higiene à população de Gaza relataram uma necessidade urgente de materiais de construção para reparar condutas de água danificadas. 

“A incapacidade de fornecer reparos pode resultar no corte de água em certas áreas no sul de Gaza”, disse o OCHA.

A invasão do hospital continua

O Hospital Kamal Adwan, em Beit Lahiya, ao norte da cidade de Gaza, foi invadido por tropas israelenses na quarta-feira (13) pelo segundo dia consecutivo, disse o OCHA, “com relatos de prisões em massa e maus-tratos de pessoas detidas”. 

De acordo com o OCHA, cinco médicos e a equipe feminina detidos no dia anterior foram libertados, mas o diretor do hospital e cerca de 70 outros funcionários médicos “permanecem presos em local desconhecido fora do hospital”. A Organização Mundial de Saúde (OMS) expressou preocupação com a operação e pediu a proteção dos pacientes e funcionários dentro do hospital.

Mulheres e meninas são desproporcionalmente afetadas

Especialistas em direitos nomeados pela ONU soaram o alarme na quinta sobre as “consequências trágicas” do conflito para mulheres e meninas no Território Palestino Ocupado e em Israel. 

Os peritos, incluindo membros do  Grupo de Trabalho sobre Discriminação contra Mulheres e Meninas, expressaram séria preocupação com a tomada de mulheres e meninas israelenses como reféns pelo Hamas durante os seus ataques terroristas de 7 de outubro e com as “crescentes alegações de violência sexual perpetrada pelo Hamas e outros grupos armados contra mulheres e meninas em Israel” naquele dia, apelando pela investigação das alegações e pela responsabilização dos perpetradores. 

Os especialistas também lamentaram o impacto desastroso do conflito na saúde, na educação e nos meios de subsistência das mulheres e meninas na Faixa. Desde 7 de outubro, 2.784 mulheres em Gaza tornaram-se viúvas e novas chefes de família.

Os peritos independentes nomeados pela ONU exercem o seu mandato no Conselho dos Direitos Humanos e não são membros do pessoal da ONU, nem recebem salário pelo seu trabalho.

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