Irã diz que prisões de britânicos refletem ‘papel destrutivo’ do Reino Unido em protestos 

República islâmica tem visto protestos abrangentes nos últimos meses, desencadeados pela morte de Mahsa Amini, de 22 anos, sob custódia da polícia

O Ministério das Relações Exteriores do Irã, Nasser Kanaani, disse nesta segunda-feira (26) que as prisões de cidadãos britânicos expõem o “papel destrutivo” do Reino Unido nos protestos que vêm ocorrendo desde setembro na nação árabe. As informações são da agência Reuters.

Questionado sobre as prisões, Kanaani, disse: “Alguns países, especialmente o que você mencionou, tiveram um papel não construtivo em relação aos recentes desenvolvimentos no Irã”.

Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês) disse no domingo (25) que desmantelou uma “rede organizada” conectada à agência de inteligência britânica. Entre os detidos estão sete cidadãos com dupla nacionalidade.

Em Estocolmo, na Suécia, cidadãos protestam contra a repressão no Irã (Foto: Artin Bakhan/Unsplash)

Referindo-se à rede como “Zagros”, um comunicado emitido pela IRGC disse que os acusados agiram “sob a orientação direta de elementos na Inglaterra” e estiveram envolvidos em “dirigir conspirações subversivas” durante os protestos em andamento após a morte de Mahsa Amini.

O Ministério das Relações Exteriores britânico disse que estava buscando mais informações das autoridades iranianas sobre os relatos de cidadãos com dupla nacionalidade britânico-iranianos levados sob custódia.

Segundo Kanaani, por “razões humanitárias”, os detidos tiveram autorização para entrar em contato com suas famílias durante as comemorações de Natal.  

Pelo menos 200 morreram nos protestos em andamento no país, marcados pela violência, de acordo com as autoridades iranianas. A estatística oficial contrasta com as estatísticas de grupos de direitos humanos estrangeiros, que calculam que o número de mortes ultrapasse 450.

Os países ocidentais, incluindo o Reino Unido, impuseram uma série de sanções relacionadas aos direitos humanos ao Irã, acusando as autoridades iranianas de “repressão e repressão contra manifestantes antigovernamentais”.

Por que isso importa?

Nos últimos meses, protestos populares tomaram as ruas do Irã após a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que visitava Teerã, capital do país, quando foi abordada pela “polícia da moralidade” por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres. Sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois.

Os protestos começaram no Curdistão, província onde vivia Mahsa, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da república islâmica. As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de dezenas de mortes.

No início de outubro, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório que classifica o regime iraniano como “corrupto e autocrático”, denunciando uma série de abusos cometidos pelas forças de segurança na repressão aos protestos populares.

De acordo com dados divulgados pela ONG Ativistas de Direitos Humanos do Irã (HRAI, na sigla em inglês), ao menos 503 pessoas morreram nas mãos de agentes estatais até o dia 19 de dezembro, entre elas 69 crianças. A entidade diz ainda que 18.452 pessoas foram detidas pelas autoridades sob a acusação de participar dos protestos.

Além dos mortos e feridos, a HRW cita os casos de “centenas de ativistas, jornalistas e defensores de direitos humanos” que, mesmo de fora dos protestos, acabaram presos pelas autoridades. Condena ainda o corte dos serviços de internet, com plataformas de mídia social bloqueadas em todo o país desde o dia 21 de setembro, por ordem do Conselho de Segurança Nacional do Irã.

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