Anistia Internacional cobra o Iraque sete anos após o sumiço de 643 homens e meninos

Civis foram sequestrados em 2016 por milícias ligadas ao governo, que desde então não revelou qualquer informação sobre o caso

Na semana que marca sete anos do desaparecimento, a ONG Anistia Internacional (AI) instou as autoridades iraquianas a revelarem informações sobre o paradeiro de 643 homens e meninos que foram raptados à força pelas Unidades de Mobilização Popular (PMU, da sigla em inglês) durante as operações militares para retomar a cidade de Fallujah do Estado Islâmico (EI) em junho de 2016.

As PMU são grupos de milícias bem estabelecidos e legalmente considerados parte do exército do Iraque.

“Já se passaram sete anos desde que o então primeiro-ministro Haidar Abadi formou um comitê para investigar os desaparecimentos e outros abusos cometidos pela PMU durante as operações de Fallujah. Mas, até agora, o comitê não divulgou nenhuma de suas conclusões e ninguém foi responsabilizado”, disse Aya Majzoub, vice-diretora da AI para o Oriente Médio e Norte da África.

Iraque abre vala comum para identificar vítimas do Estado Islâmico em NíniveFamiliares de vítimas do massacre de Badush reivindicam identificação dos corpos desaparecidos em Nínive, Iraque, junho de 2021 (Foto: Reprodução/Twitter/@IraqiSpoxMOD)

Majzoub enfatizou que as vítimas de desaparecimentos forçados no Iraque não são apenas além os desaparecidos, mas também os familiares e amigos, que sofrem a angústia de não saber o destino das vítimas.

Ela criticou diversos governos por não fornecerem respostas e reparações adequadas a essas famílias e ressaltou a necessidade de acabar com a impunidade no país, instando o governo a divulgar publicamente as conclusões do comitê de investigação, compartilhar qualquer informação sobre o destino dos desaparecidos com suas famílias e autoridades judiciais e “garantir julgamentos justos para os perpetradores, sem recorrer à pena de morte“.

Em junho de 2016, pessoas fugindo da área de Saqlawiya, na província de Anbar, foram abordadas por indivíduos armados identificados como membros da PMU. Alguns homens e meninos foram colocados em ônibus e um caminhão, mas o destino deles é desconhecido. As famílias têm pressionado por investigações, mas não receberam respostas das autoridades. Esses eventos foram documentados em uma investigação coordenada pela AI no mesmo ano.

Uma mulher que foi capturada pela PMU à época relatou à Anistia Internacional que pelo menos seis membros de sua família também foram sequestrados. Seu marido e um de seus irmãos ainda estão desaparecidos. Nas palavras dela, “não há dor maior do que perder alguém que você ama. Perdemos nossos entes queridos, maridos, tios, pais. Todos se foram. Só me lembro de tristeza.”

Ela foi libertada no mesmo dia do sequestro, enquanto quatro de seus irmãos foram soltos três dias depois. Segundo ela, seus irmãos foram submetidos a tortura incessante e testemunharam membros da PMU enterrando pessoas vivas, além de ouvirem os gritos de pessoas sendo torturadas.

Segundo o Comitê de Desaparecimentos Forçados da ONU (Organização das Nações Unidas), o Iraque tem entre 250 mil e um milhão de pessoas desaparecidas desde 1968, colocando-o como um dos países com o maior número de casos de pessoas desaparecidas globalmente.

Estado falhou

Em 5 de junho de 2016, o então primeiro-ministro Haider al-Abadi estabeleceu um comitê para investigar os desaparecimentos e outras violações ocorridas durante as operações militares para retomar Fallujah, incluindo a participação da PMU.

Além disso, o governo local de Anbar foi encarregado de formar um comitê investigativo separado. Em 11 de junho de 2016, esse comitê apresentou suas conclusões ao primeiro-ministro, revelando que 643 homens e meninos da área de Saqlawiya estavam desaparecidos. No entanto, as famílias dos desaparecidos afirmam que o número real é maior.

Desde a criação do comitê pelo ex-primeiro-ministro em junho de 2016, não foram divulgadas informações claras sobre as medidas tomadas para investigar os desaparecimentos ocorridos durante as operações militares em Fallujah. Até o momento, não houve divulgação pública de quaisquer descobertas ou resultados por parte do comitê.

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