Na última terça-feira (6), o Irã ingressou no seleto grupo de países que têm à disposição de suas forças armadas os temidos mísseis hipersônicos, armamento de última geração capaz de viajar a pelo menos cinco vezes a velocidade do som. Embora a novidade mereça desde já a atenção dos EUA, o artefato iraniano ainda tem certas limitações que impedem a República Islâmica de atacar diretamente seus inimigos, particularmente Israel. Mas esse cenário pode mudar em breve, como explica a agência Al Jazeera.
O míssil hipersônico iraniano, batizado de Fattah, vinha sendo desenvolvido há algum tempo, e o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês), elite das forças armadas do país, já havia anunciado o projeto em novembro. Porém, foi somente no início desta semana que a mídia estatal apresentou a nova arma em um evento em Teerã.
O Fattah tem alcance de 1,4 mil quilômetros, o que impossibilita por exemplo um ataque direto a Israel. Inclusive, durante o evento, Teerã não fez qualquer ameaça direta ao inimigo como em ocasiões semelhantes no passado.
Mas os números do míssil colocam os israelenses em alerta. Considerando a velocidade indicada, de 5,1 quilômetros por segundo, ele teria condições de atingir Israel em sete minutos. E, como é da natureza dos hipersônicos, deter o armamento é uma tarefa complicada. Segundo o Irã, impossível.
“O Fattah não pode ser destruído por nenhum outro míssil devido à forma como ele se move em diferentes direções e em diferentes altitudes”, disse o comandante-chefe do setor aeroespacial da IRGC, Amir Ali Hajizadeh.
Se o alcance é hoje um impeditivo, esse cenário tende a mudar. Hajizadeh disse na terça que o país já trabalha com a possibilidade de futuramente ampliar o alcance da arma para dois mil quilômetros, o que colocaria o território israelense dentro do raio de ação do Fattah.
O nome, a proposito, significa “a abertura” e foi escolhido pelo aiatolá Ali Khamenei, sugerindo a capacidade de romper as defesas inimigas.
Sanções
O alcance reduzido do míssil parece inclusive uma forma de tentar amenizar as críticas ocidentais, que de toda forma surgiram imediatamente após a apresentação. Os EUA assumiram a dianteira, impondo novas sanções através do Departamento do Tesouro.
Foram punidos sete indivíduos e seis entidades não apenas do Irã, mas também da China e de Hong Kong, que “realizaram transações financeiras e facilitaram a aquisição de peças e tecnologias sensíveis e críticas para atores-chave no desenvolvimento de mísseis balísticos do Irã.”
Washington não se referiu especificamente ao Fattah, mas deixou claro que o lançamento do míssil não foi bem recebido. “Os Estados Unidos continuarão a visar redes de compras transnacionais ilícitas que apoiam secretamente a produção de mísseis balísticos do Irã e outros programas militares”, afirmou o subsecretário do Tesouro para terrorismo e inteligência financeira, Brian E. Nelson.
Por sua vez, John Kirby, coordenador do Conselho de Segurança Nacional para comunicações estratégicas, disse que seu governo “tem sido muito firme em repelir as atividades desestabilizadoras do Irã na região, para incluir o desenvolvimento de uma programa de mísseis balísticos.”
China e Rússia lideram
Os EUA estão em desvantagem no que tange a mísseis hipersônicos. Embora o armamento venha sendo desenvolvido por Washington, ainda não está à disposição de suas forças armadas. Nesse campo, os líderes globais são China e Rússia, sendo que Moscou foi o único país até hoje a de fato usar o artefato em situação de combate, na guerra da Ucrânia.
É a China, porém, quem está na diante. O país tem atualmente 73% de toda a pesquisa global de alto impacto no setor de mísseis hipersônicos, superando não apenas os EUA, mas a soma dos nove países que aparecem depois dela no ranking. A Coreia do Norte também alega ter testado com sucesso a arma.
“Embora China e Rússia tenham realizado numerosos testes bem-sucedidos de armas hipersônicas e provavelmente tenham colocado em campo sistemas operacionais, a China está liderando a Rússia tanto no suporte à infraestrutura quanto no número de sistemas”, disse em março Paul Freisthler, cientista-chefe da Agência de Inteligência de Defesa dos EUA, segundo informou a rede Voice of America (VOA).