Mulheres sofrem com o afastamento do mercado de trabalho no Afeganistão, diz relatório

Segundo a Organização Internacional do Trabalho, os níveis de emprego feminino caíram acentuadamente desde que o Taleban tomou o poder em 2021

A misoginia implacável do Taleban fez os níveis de emprego feminino no Afeganistão caírem acentuadamente desde que a organização jihadista assumiu o poder central em 2021 e impôs uma crise humanitária. É o que revelam números divulgados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Segundo o estudo, intitulado Emprego no Afeganistão em 2022: uma rápida avaliação de impacto, no quarto trimestre de 2022 o emprego feminino teve redução de 25% em comparação ao segundo trimestre de 2021, período que antecedeu a retirada das tropas dos EUA e aliados do país e consequente insurreição dos extremistas. Os níveis de emprego masculino caíram 7% na mesma época.

O fato de as autoridades talibãs terem implementado restrições severas à capacidade das mulheres de participarem da vida econômica, afastando elas do mercado de trabalho – incluindo o serviço humanitário em organizações não-governamentais –, contribuiu fortemente para o cenário negativo.

Uma mulher afegã trabalha para a indústria alimentícia antes de o Taleban assumir o poder (Foto: USAID U.S. Agency for International Development/Flickr)

A alternativa para as afegãs é o trabalho por conta própria dentro de casa, que se tornou a principal forma de renda, impedindo que o número caísse ainda mais.

“As restrições impostas a meninas e mulheres têm sérias implicações em suas perspectivas de educação e mercado de trabalho”, disse Ramin Behzad, coordenador sênior da OIT para o Afeganistão.

Behzad acrescentou que fornecer acesso igualitário para todos os homens e mulheres jovens à educação e treinamento de qualidade, bem como oportunidades de emprego decentes e produtivas, “continua sendo um desafio fundamental e uma prioridade para o futuro da economia e sociedade afegãs”.

O impacto na iniciação profissional também é dramático, tanto para homens quanto mulheres. O relatório da OIT aponta que, para os jovens entre 15 e 24 anos, a diminuição foi de 25% no quarto trimestre de 2022 em relação ao segundo trimestre de 2021.

No quarto trimestre de 2022, estima-se que o emprego total (formal e informal) tenha sido 450 mil abaixo dos níveis pré-transição de governo, e mais de 900 mil abaixo em comparação com um cenário hipotético sem mudança na administração.

As mulheres que tinham cargos no governo afegão antes da ascensão talibã seguem impedidas de trabalhar, e a cúpula do governo que prometia ser inclusiva é formada somente por homens. A perda do salário por parte de muitas mulheres que sustentavam suas casas contribui para o empobrecimento da população afegã.

A repressão de gênero é também um das principais razões citadas por nações de todo o mundo para que o Taleban não seja reconhecido como governo de direito do Afeganistão. Assim, o país segue isolado da comunidade internacional e afundado na pobreza, sem perspectiva imediata de gerar riqueza.

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