ONGs acusam indústria armamentista francesa de crimes de guerra no Iêmen

Entidades dizem que fabricantes se tornaram cúmplices ao venderem armas para a Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos

Três ONGs (organizações não-governamentais) disseram nesta quinta-feira (2) que entraram com uma ação na Justiça contra três grandes produtores de armas da França. As entidades acusam os fabricantes de serem cúmplices em crimes de guerra cometidos no Iêmen, após terem negociado armamentos com a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos (EAU). As informações são da agência Reuters.

A queixa foi movida pelo Centro Europeu de Direitos Constitucionais e Humanos (ECCHR, da sigla em inglês), a organização iemenita Mwatana para Direitos Humanos e a Sherpa International. Os alvos do processo são a Dassault Aviation, a Thales S.A e a MBDA France. O objetivo das ONGs é esquentar o debate público sobre a questão em um momento em que os Estados Unidos e aliados do Ocidente tentam melhorar as relações com a Arábia Saudita.

A ação judicial corre paralelamente a uma trégua no país árabe entre a coalizão militar liderada por Riad e o grupo rebelde dos houthis, alinhado ao Irã. O cessar-fogo temporário é o primeiro desde 2016.

Coalizão militar liderada pela Arábia Saudita (Foto: Ahmed Farwan/Flickr)

Grupos de direitos humanos franceses sustentam que o apoio velado de Paris à coalizão só prolongou e agravou o conflito. Antes da guerra, iniciada em 2015 após a invasão de Sanaa pelos rebeldes iemenitas, o país já era considerado um dos mais pobres do mundo. Após, surgiu ali a mais grave crise humanitária do mundo hoje.

“Os ataques aéreos da coalizão causaram uma terrível destruição no Iêmen. Armas produzidas e exportadas por países europeus, e em particular pela França, permitiram esses crimes”, disse Abdulrasheed al-Faqih, diretor executivo da Mwatana.

Para ele, sete anos de conflito que resultaram na morte de inúmeros iemenitas “merecem investigações confiáveis ​​sobre todos os perpetradores de crimes, incluindo aqueles potencialmente cúmplices”.

Segundo a Reuters, promotores franceses estudam queixas de teor semelhante contra o príncipe herdeiro de Abu Dhabi, Mohammed bin Zayed al-Nahyan, o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman e a autoridade alfandegária francesa.

A trégua no Iêmen trouxe um fio de esperança ao país e pode também significar para Riad a saída de um conflito que gera alto custo e é responsável por tensões com os EUA.

Por que isso importa?

O Iêmen vive uma guerra civil que começou no final de 2014, após o grupo rebelde dos houthis, alinhado ao Irã, expulsar o governo da capital Sanaa. Uma coalizão militar liderada pela Arábia Saudita interveio a favor dos antigos governantes, acusados de corrupção pelos militantes de oposição.

Desde 2021, os rebeldes têm intensificado os ataques com mísseis e drones contra empresas e órgãos governamentais sauditas, o que levou Washington a incluir o grupo em sua lista de grupos terroristas internacionais. Os houthis rejeitam a proposta saudita de cessar-fogo e exigem a abertura do espaço aéreo e portos do Iêmen.

crise humanitária reflexo do conflito é uma das mais graves do mundo, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). Cerca de dois milhões de civis migraram para cerca de 140 alojamentos improvisados no meio do deserto. O acesso a alimentos e água potável é escasso.

Mais de 13,6 mil moradores já deixaram Marib temendo a onda de violência que pode se instalar na cidade. Há relatos de que os houthis recrutam menores – em especial crianças – para a linha de frente das batalhas e para esgotar as munições das forças adversárias.

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