Plano de ‘ilhas humanitárias’ em Gaza é ‘apocalíptico’, de acordo com a ONU

Agência contesta a ideia israelense de levar 1,4 milhão de palestinos de Rafah para o norte do enclave, classificado como 'inabitável'

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

Um novo incidente na Cidade de Gaza na quinta-feira (14) aumentou a preocupação com a segurança das operações humanitárias no local. Segundo agências de notícias, seis palestinos morreram e 83 ficaram feridos enquanto esperavam a chegada de caminhões de ajuda. 

O fato ocorreu um dia depois do bombardeio contra um armazém e centro de distribuição de alimentos no sul de Rafah, que matou pelo menos um funcionário da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA) e feriu outras 22 pessoas.

Ajuda humanitária sob “constante ameaça”

Em um comunicado logo após o ataque israelense, o comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, disse que o armazém atingido era um dos “muito poucos pontos de distribuição restantes” da agência.

O coordenador de Ajuda de Emergência da ONU (Organização das Nações Unidas), Martin Griffiths, questionou a viabilidade de manter as operações de ajuda, na medida em que as equipes e os suprimentos “estão constantemente sob ameaça”. Ele apelou pela proteção das ações humanitárias e pediu o fim da guerra.

Fotos gráficas do armazém mostravam uma caixa de suprimentos coberta de sangue perto da entrada da instalação. Mas os danos nos suprimentos foram mínimos, de acordo com a UNRWA.

Evacuação de 1,4 milhão de palestinos

A agência da ONU também alertou que supostos planos israelenses para transferir 1,4 milhão de palestinos de Rafah para “ilhas humanitárias” no norte do enclave seria uma medida “apocalíptica”.

A proposta surge em meio à profundas preocupações expressas pela comunidade internacional sobre uma iminente invasão israelense em Rafah. 

A diretora de Comunicações da UNRWA, Juliette Touma, questionou para onde as pessoas seriam evacuadas. Nas palavras dela, “nenhum lugar é seguro em toda a Faixa de Gaza, o norte está destruído, cheio de armas não detonadas, é praticamente inabitável”. E afirmou que qualquer nova escalada seria “absolutamente apocalíptica”.

De acordo com a UNRWA, pelo menos 165 membros da equipe foram mortos, inclusive enquanto cumpriam o dever em Gaza, desde 7 de outubro. Mais de 150 instalações foram atingidas, dentre elas muitas escolas.

Passagem da fronteira de Rafah, entre Gaza e o Egito (Foto: WikiCommons)
Envio de ajuda por mar

Para aumentar o envio de ajuda em Gaza, uma nova rota marítima humanitária está sendo criada. Na quinta-feira, um navio de uma ONG que partiu do sul de Chipre permaneceu atracado ao largo da costa de Gaza.

A iniciativa é uma missão conjunta que envolve a World Central Kitchen, parceira da ONU, e a instituição de caridade de busca e salvamento Open Arms, em suposta coordenação com as autoridades israelenses e a comunidade internacional. O objetivo é entregar 200 toneladas de suprimentos humanitários ao norte do enclave sitiado assim que um cais for construído ao sul da Cidade de Gaza.

Um plano separado envolvendo os militares dos Estados Unidos planeja a entrega de dois milhões de refeições por dia por navio ao enclave através de uma estrutura flutuante temporária que ainda não foi construída.

Embora novas rotas de ajuda por via marítima e aérea sejam bem-vindas, as agências de ajuda humanitária da ONU têm insistido repetidamente que não substituem os fornecimentos transportados por terra.

Concessão de acesso ao norte

Um comboio de seis caminhões do Programa Mundial de Alimentos (PMA) chegou ao norte de Gaza na terça-feira (12) após ter acesso assegurado a um portão na cerca de segurança que separa o enclave de Israel, de acordo com as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês).

A carga do comboio foi verificada anteriormente na passagem de Kerem Shalom, mais ao sul, antes de ser autorizada a seguir para o norte, de acordo com as IDF, que acrescentou que mais de mil pacotes de ajuda foram lançados por via aérea na Faixa de Gaza por países estrangeiros na última semana.

Já se passaram cinco meses desde o início dos intensos bombardeios em Gaza em resposta aos ataques terroristas liderados pelo Hamas que deixaram cerca de 1,2 mil mortos em Israel e mais de 250 reféns.

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